O faço-porque-posso de Graça
Foster
Quem
acompanha a desenvoltura do comissariado petista habituou-se a conviver com
notícias chocantes. Assessor de deputado com dólares na cueca ou o
vice-presidente da Câmara voando no jatinho de um doleiro.
Ainda
assim, pode (se quiser) atribuir esses malfeitos às deficiências do gênero
humano. Aí, aparecem os repórteres Vinicius Sassine, Eduardo Bresciani e
Demétrio Weber e informam: Entre março e abril a presidente da Petrobras, Graça
Foster, doou a seus dois filhos um apartamento de Rio Comprido, outro em Búzios
e uma casa na ilha do governador. (A mesma generosidade bafejou Nestor Cerveró,
ex-diretor da Petrobras, levando-o a doar aos filhos e a um neto dois
apartamentos no Leblon e outro em Ipanema.)
Desde
2012 o Tribunal de Contas da União investigava a encrenca da Petrobras na
compra da refinaria de Pasadena, que poderia resultar no bloqueio dos bens do
petrocomissariado. Ele efetivamente ocorreu, meses depois das doações.
Na
quarta-feira, quando o TCU decidia se deveria bloquear também o patrimônio de
Graça Foster, veio a informação da transferência dos bens. "É grave,
porque é como se fosse uma tentativa de burlar o caso", disse o ministro
José Jorge, relator do processo no tribunal.
Faz
sentido que Cerveró tenha decidido fazer as doações, afastando a mão da Viúva
caso ela queira de volta o que perdeu em Pasadena. Ele participou da operação.
Graça Foster, não. Ademais, carrega uma tiara de benignidade.
Entrou
na Petrobras como estagiária, foi a primeira mulher a sentar-se na sua
diretoria, chamaram-na de "clone da Dilma" e "Dama de
Ferro". Admitindo-se que os imóveis transferidos sejam medida de seu
patrimônio, depois de 36 anos de trabalho a engenheira Foster chegou à
presidência da uma das maiores empresas do mundo com a mixaria de dois
apartamentos e uma casa de praia.
Qualquer
lasca de contrato de uma plataforma rende mais que isso.
Pela
cronologia, a doação de Graça Foster comprometeu sua biografia. O fato de ter
feito algo parecido com o que fez Cerveró juntou-a a ele, quando as tramas de
Pasadena dissociavam-na.
Foram
ações temerárias, produto do faço-porque-posso, sentimento que se infiltra nos
poderosos, levando-os a acreditar em coisas que não fazem sentido e a correr
riscos que a razão aconselha evitar.
Quando
Graça Foster assumiu a presidência da Petrobras viu-se festejada pela
competência e também pela origem. Teria crescido numa favela do Complexo do
Alemão. Nos anos 50, sua família vivia na Penha, um bairro de classe média.
Nas
décadas seguintes, onde algumas franjas degradaram-se com a expansão do que se
conhecia apenas como "favela do Alemão". A "favelada"
pagara seu material escolar catando papéis e latas de alumínio. Nessa época,
era comum que crianças vendessem a quilo jornais velhos da família ou mesmo de
vizinhos. Quanto às latas de alumínio, não existiam. Graça mudou-se para a Ilha
do Governador em 1965, quando tinha 12 anos.
A
petista favelada e catadora de papel na presidência da Petrobras era uma
alegoria-companheira. Ninguém está livre da falácia das narrativas, mas elas
podem ser contidas. Dilma Rousseff poderia ter contido a história segundo a
qual era doutora pela Unicamp.
O
general americano Colin Powell, que chegou a secretário de Estado, era filho de
imigrantes jamaicanos e crescera no Bronx. Construiu-se a falácia do menino
negro saído de uma comunidade violenta e degradada. Powell fez questão de dizer
que, na medida em que ascendia a posições de relevo, sua origem tornava-se cada
vez mais humilde, e o Bronx, mais miserável. Ao seu tempo, era apenas um bairro
de classe média baixa de Nova York.
PETROMEMÓRIA
Apesar
de ter anunciado que pretende colaborar com as investigações em torno das
petrorroubalheiras, o comissário Paulo Roberto Costa ainda não mostrou que fala
sério. Preso em março, o ex-diretor da Petrobras não sabe até onde as
investigações já chegaram. Oferecendo pão dormido, atrapalha-se.
PERIGO
A VISTA
Desde
o início do mês a doutora Dilma tem à sua disposição o preenchimento da vaga do
ministro Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal. Não lhe fará bem
preenchê-la em plena campanha eleitoral e será desastroso fazê-lo antes do
resultado da eleição. Vitoriosa, poderá nomear quem quiser. Esperar será duro,
pois há muitos sedentos em torno do pote.
DILMA
E DALI
De
uma víbora incapaz de ferver água numa panela, ao ver a doutora Dilma fazendo
uma macarronada: "Essa cena lembra o que o pintor Salvador Dali, um
militante elitista, disse de Pablo Picasso: - Picasso é espanhol, eu também.
Picasso é um grande artista, eu também. Picasso é comunista, eu também".
MEDO
TUCANO
O
tucanato teme uma mudança no humor do governador Geraldo Alckmin. Ele tem 55%
das preferências em São Paulo. Uma pesquisa de julho informava que Aécio Neves
estava empatado com Dilma Rousseff, com 25%. Aécio Neves sabe o gosto amargo
desses humores. Em 2006 foi beneficiado pelo voto "Lulécio".
BRUXARIA
O PSB
conseguiu transformar Marina Silva num problema. Resta saber se vão insistir na
bruxaria.
O
FAÇO-PORQUE-POSSO DO MAGNÍFICO REITOR
Entre
abril de 2010 e fevereiro de 2011, Ricardo Veiralves, reitor da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, manteve em seu gabinete Pedro Paulo Souza e Silva e
Nilcea Pereira da Silva, funcionários da Câmara Municipal e filhos da deputada
Benedita da Silva. Deu bolo. Desde maio, os três são réus junto à 1ª Vara da
Fazenda Pública.
Ouvidos
pelo Ministério Público, não explicaram de forma convincente as funções que
desempenharam na Uerj.
O
repórter Cassio Bruno Gonçalves publicou duas reportagens sobre o caso. Buscou
a voz da reitoria em pelo menos cinco ocasiões por telefone ou e-mails. Nunca
teve resposta.
Na
semana passada Vieiralves encaminhou uma mensagem aos seus "caros
amigos" tratando do assunto. Nela, em 539 palavras, dedica apenas 65 ao
caso, reiterando que os dois servidores "cumpriram suas tarefas junto a
uma comunidade popular da zona sul do Rio". A ver.
O MP
duvida, e a Justiça decidirá. Em seguida, lembra que a Uerj não gastou
"nenhuma espécie de pecúnia". Certo. Eles receberam R$ 140 mil da
Câmara Municipal, uma subsidiária da Viúva que sustenta a Uerj.
O
magnifico reitor gastou a maior parte de seu texto condenando o Ministério
Público, que move oito processos contra a Uerj, alguns deles meio girafas.
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