sábado, 23 de agosto de 2014


24 de agosto de 2014 | N° 17901
PAULO FAGUNDES VISENTINI

Coreia do Norte, um planeta desconhecido

Nem tudo é apenas o que aparenta ser, e toda realidade possui várias facetas. Assim, há uma Coreia do Norte (CN) conhecida entre nós de forma caricatural: Parque Jurássico do Stalinismo e regime fechado, à beira do colapso, dinástico e irracional, oprimindo um povo faminto. Todavia, estudado em profundidade e/ou visto por dentro, o Estado eremita surpreende e impacta.

Um recente encarte turístico do jornal China Daily, de Pequim, convida o leitor: “Visite a CN e conheça o passado”. Em parte, pois sua urbanidade combina prédios residenciais de estilo soviético (construídos logo após a Guerra de 1950 – 1953) com um futurismo arrojado, de ficção científica: arranha-céus ultramodernos e praças, monumentos e avenidas amplas, limpas e imponentes. Pyongyang é uma cidade ímpar, na época da mesmice da globalização.

Os anos 1990 foram os da Penosa Marcha, com o fim da URSS (e da ajuda econômica), a China cobrando em dólar, a morte do líder fundador Kim Il Sung e uma sequência de secas e enchentes gerando fome e morte. Mas durante a presidência Clinton e a de um moderado na Coreia do Sul, houve diálogo e distensão. Hoje, com um governo conservador no Sul e as manobras militares norte-americanas, voltou o jogo calculado do Ocidente, que produz crises militares e ameaças nucleares (último recurso de dissuasão do acuado regime do Norte).

A economia da CN voltou a crescer há uma década (com avanços e recuos de mercados privados) e, apesar das aparências, o jovem dirigente Kim Jong Un tenta moderar o poder do exército (mas modernizá-lo como força de dissuasão) em relação ao do Partido (civis) e está melhorando a qualidade de vida da população. Na Zona Especial de Kaesong voltam a operar joint-ventures entre empresas estatais do Norte e privadas do Sul. No extremo norte, foi criada a Zona de Ranjin, com um moderno porto conectado ao nordeste da China e à Rússia, que abriga empresas de vários países. E cada pedaço de terra disponível é cultivado no rochoso e montanhoso país.

Ao lado das imagens onipresentes dos cultuados líderes, proliferam celulares e computadores (com intranet nacional), sinalizando reformas e modernização. Pessoas bem vestidas, saudáveis, disciplinadas e cordiais levam uma vida aparentemente normal, apesar das tensões militares, e desfrutam dos modernos parques de diversão.


Mas velhos e conhecidos problemas persistem, e a CN segue sendo uma sociedade tipicamente asiática e socialista, complicada de compreender. Um verdadeiro planeta Marte: vermelho, Deus da guerra e difícil de chegar, embora haja muitos turistas ocidentais e chineses nas ruas.

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