19
de agosto de 2014 | N° 17895
MOISÉS
MENDES
Acabou
Assim
como o ciclo da borracha, o cinema novo e a arte moderna, o futebol brasileiro
extinguiu-se. Não existe mais o futebol brasileiro, como não existe mais o país
das bananas, da Bossa Nova e da Tropicália. É o fim, você viu na última rodada
do Brasileirão.
Pelé
está agora ao lado de Carmen Miranda, de João Gilberto e de Caetano Veloso como
representante de algo que um dia ajudou a nos definir como brasileiros, mas se
esgotou.
O
futebol afundou na mediocridade. Sobraram as chuteiras cor-de-rosa, os amigos
da dinastia da CBF, as máfias, ingressos impagáveis e estádios vazios.
Nunca
antes neste país, como dizem os cronistas, o futebol esteve tão igual. Pernas
de pau e treinadores que se repetem igualaram o futebol brasileiro. As séries
A, B, C, D, E, F, G são todas a mesma coisa.
A
Copa apenas nos proporcionou o grand finale. Fomos expostos, pelo vexame dos 7 a 1, como o futebol mais decadente de
todos os continentes.
O
Brasileirão é só a continuação do processo de extinção. Se não fosse a Copa,
continuaríamos nos enganando. Venceu o futebol dos times com cinco volantes. Nas
arquibancadas, adolescentes e marmanjos rosnam cânticos macabros. Nem os quero-queros
aguentam mais o nosso futebol.
Já me
reuni com amigos, numa esquina aqui na Redação, para saber se esse é um
sentimento generalizado e se não há exagero em pensar que o futebol acabou. Se,
passada a ressaca da Copa, poderemos voltar ao normal.
Alguns
resistem, mas a maioria acha que não há mais o que fazer. Esse agora é o nosso
normal.
O
melhor momento do futebol brasileiro é o da corrida dos cavalinhos do Tadeu
Schmidt no Fantástico.
Nosso
futebol durou muito. Nasceu em 1958, quando o Brasil tomou aquele primeiro gol
na final contra a Suécia. Se o Brasil não tivesse tomado aquele gol no começo,
se Didi não tivesse andado até o centro do campo com a bola embaixo do braço e
se o Brasil não tivesse virado aquele jogo, tudo poderia ter sido diferente. O
futebol nasceu ali.
E
começou a morrer com aquele primeiro gol da Alemanha, na tragédia de 8 de julho
no Mineirão. Assim como, lá em 1958, todos sabiam que o Brasil de Pelé desmoralizaria
a Suécia, sabia-se agora na Copa, depois do primeiro gol dos alemães, que o
Brasil de Fred seria irremediavelmente desmoralizado.
Só que
nossa tragédia é incompleta. Para que o horror se consumasse e o país
mergulhasse nas trevas, seria preciso que a Argentina tivesse vencido a final
da Copa. Sem a vitória da Argentina, ainda ficamos esperneando por alguns dias,
até a retomada do Brasileirão.
Agora,
diante dos jogos patéticos do Campeonato Brasileiro, sabemos que não dá mais. O
futebol acabou. A extinção do futebol nacional será sempre associada à era dos
jogadores com cabelos moicanos que jogavam com chuteiras amarelas e bolas roxas.
É dantesco.
É o pior espetáculo da Terra. Mas há um consolo. Poderia ser pior. Poderíamos
estar vivendo hoje a segunda era daqueles assustadores calções Adidas.
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