quarta-feira, 20 de agosto de 2014


20 de agosto de 2014 | N° 17896
ARTIGO - LEANDRO DE LEMOS*

A INSUSTENTÁVEL ECONOMIA BRASILEIRA

Parece difícil aceitar que a economia brasileira esteja entrando em recessão técnica após alguns anos de taxas de crescimento elevada. É fato que todas as economias têm ciclos, faz parte da lógica quase coercitiva dos mercados, e que a condução macroeconômica até poderia ter melhores resultados. No entanto, desta vez, a causa é conhecida há muitos anos: as travas impostas ao investimento.

O processo de industrialização comandado pelo Estado na Era Vargas subordinou os investimentos públicos e privados à construção do capitalismo no Brasil. Iniciou-se a instalação dos departamentos – segundo os fundamentos de Michael Kalecki – de bens de consumo não duráveis.

No período JK, o de bens de consumo duráveis. E, no período militar, completamos o parque industrial com o departamento de bens de capital. É uma síntese, e é claro que o processo foi muito mais complexo.

O surpreendente é que, em 1974, o diagnóstico é idêntico ao de 2014. Quarenta anos se passaram e não conseguimos completar o modelo brasileiro de desenvolvimento. Rompemos a dependência da importação de produtos industrializados, mas mantivemos a dependência tecnológica.

Era preciso investir pesado em educação, ciência, tecnologia e inovação para entrarmos no jogo global que àquela época se redesenhava – estavam nascendo a China, a Coreia do Sul, o Japão e a Suécia de hoje, além do adensamento da tecnologia de ponta dos EUA. As cadeias produtivas se tornavam globais, e nós fechamos as fronteiras.

Ficamos com déficits, dívidas e inflação como herança para cuidar durante 40 anos. Avançamos na inclusão e no crescimento do mercado interno. Mas, atualmente, o foco exclusivo do tripé metas de inflação, superávit primário e câmbio deveria ser apenas base na gestão econômica. A parte principal está em destravar as barreiras dos investimentos. Sem eles, não há inovação e a economia fica à mercê de ciclos econômicos erráticos e algum crescimento sabidamente insustentável.

*Economista, presidente do Corecon-RS, professor de Economia da PUCRS


LEANDRO DE LEMOS

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