domingo, 10 de agosto de 2014


10 de agosto de 2014 | N° 17886
PARTO O OUTRO LADO

A hora da transformação

Na madrugada de 24 de julho, na sala de parto do Hospital Moinhos de Vento, Eduardo Homrich Granzotto conseguiu traduzir em uma imagem luminosa o que um homem vê e sente no instante em que se torna pai. Ele puxou o celular e fotografou o momento exato em que o filho, Marco, passou do ventre da mãe às mãos do obstetra. Horas depois, ao deparar com a foto que nem lembrava ter feito, Eduardo emocionou-se ao ver que ela resumia e simbolizava a experiência pela qual passara.

– Mesmo sendo involuntária, a foto passa a emoção que eu estava vivendo. A pelve da Fabiana aparece iluminada, ilustrando a ideia de dar à luz, enquanto a lâmpada cirúrgica forma uma aura sobre a cabeça do obstetra na hora em que ele traz ao mundo uma nova vida – interpretou o pai.

Otorrinolaringologista, Eduardo havia recém operado um paciente quando chegou ao Moinhos de Vento, na noite do dia 23, para acompanhar uma avaliação da mulher, a dentista Fabiana Caramori Noal Granzotto. A ecografia indicou que o nascimento do primeiro filho do casal, os dois com 35 anos, era para já.

O trabalho de parto se estendeu até 4h50min, quando Eduardo foi chamado para ver o filho nascer. Ao entrar na sala, ele viu-se envolvido pela melodia de uma canção do grupo Coldplay, em versão infantil, que saía do celular do obstetra Edson Vieira da Cunha Filho. Eduardo posicionou-se atrás do leito e pousou a mão direita na cabeça de Fabiana. A mão esquerda ficou colada à perna, cerrada. Na outra ponta, o médico antecipou que Marco teria os cabelos claros e começou a incentivar Fabiana:

– Força aqui embaixo, Fabi! Aqui embaixo! Empurra o Marco para fora. É tu quem vais fazer o Marco nascer. Isso, Fabi. Não para. Não para. Vamos, guria!

Vendo o esforço da mulher, Eduardo levou também a mão esquerda à cabeça dela por um instante. Reclinou-se e beijou-lhe a testa. Sentiu que, a cada vez que ela forcejava, ele também pressionava o chão com a perna, instintivamente, para ajudar.

– Não para que está vindo! O Marco vai nascer. Não para. Força – disse Edson.  – Não é a força que me cansa, é a falta de ar – explicou Fabiana, parando para recuperar o fôlego.  – Agora ele vem! Está sobrando, esse bebê. Fabi, é um espirro que tu dás, e nasce o Marco.

Sem perceber, Eduardo começou a pressionar com força a cabeça da mulher, para baixo, como se assim pudesse empurrar o filho para fora – Fabiana contaria que a pressão do marido na cabeça era uma das lembranças marcantes do parto. Logo em seguida, um choro espalhou-se pela sala.

– Oi, Marco véio! – saudou o obstetra.

Nesse instante, Eduardo esqueceu a câmera no pescoço e apanhou o celular para a primeira foto do filho. Em seguida, colocou-se ao lado da cama, inclinou a cabeça e contemplou o menino bem de perto, demoradamente. Os olhos marejaram.

– Tudo o que eu tinha só imaginado por nove meses se materializou ali. Foi como olhar uma obra de arte. É como diz meu tio: a mulher sente a criança durante toda a gestação, mas o pai fica de fora até o nascimento. Quando nasce, é muito forte, cai a ficha. A gente fica olhando o bebê e aquilo vai pesando: “Puxa, é um ser vivo que veio de mim”. É assim que aflora o amor de pai – descreveu.

Quatro dias depois, Eduardo já se reconhecia como uma pessoa transformada pela nova condição:

– Apesar de ser tão recente, já dá para dizer que sou outra pessoa. Antes eu comia em qualquer lugar. Agora tento me organizar para almoçar em casa. No consultório, comecei a atender crianças de forma distinta. Não sei dizer o que mudou, mas tive a sensação de que é diferente, com mais carinho ainda na hora de examinar. E até o jeito de dirigir é outro, com mais cuidado na distância entre os carros, na troca de pistas, na velocidade. Um filho faz a gente mudar. Mudar para melhor.


FELIZ DIA DOS PAIS para os pais de hoje e os futuros.

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