26
de agosto de 2014 | N° 17903
DAVID
COIMBRA
QUERO PARTICIPAR DE UM
SEMINÁRIO
Às vezes me convidam para participar de algum fórum
de futebol. Parece que há muitos fóruns de futebol acontecendo por aí. Sempre
me surpreendo quando recebo esses convites. Como assim, fórum de futebol? Vocês
se reúnem com lápis e papel para discutir futebol a sério??? Como é que se
discute futebol a sério? Imagino o programa de um fórum de futebol. Deve
acontecer em centro de convenções de hotel, começando sexta-feira à tardinha,
indo até às onze horas, retomando no sábado bem cedo, esticando até o anoitecer
do domingo, com painéis, seminários e palestras.
Só
de pensar nisso, em assistir a um “painel”, na verdade, só de ler ou ouvir a
palavra “painel” me dá uma alegria, uma excitação. Dá vontade de viver a vida.
Ah, como queria participar de um painel nesse momento. E discutindo futebol a
sério, de preferência. Temas como “O futebol como business”, “A estrutura
arcaica do futebol brasileiro”, “A corrupção nas federações”, “Rumos da
imprensa esportiva”. Delícia!
Seria
algo novo para mim. Eu, quando falo de futebol, alguém diz, por exemplo, que o
time do Cruzeiro é uma beleza, e lembro de dois Cruzeiros que vi jogar: o de
Dirceu Lopes e Tostão, e o de Palhinha, Joãozinho, Nelinho e Jairzinho. Nesses
dois Cruzeiros jogaram também Piazza e Zé Carlos. Craques.
De
Zé Carlos uma vez ouvi Tostão dizer num murmúrio, olhando para o horizonte, com
certo laivo de nostalgia:
– O
Zé Carlos nunca deu um drible... E nunca errou um passe...
Mas
acho que já contei essa história.
Já
contei também a do Tostão com o Di Stéfano? Devo ter contado. O Tostão é um
grande cara. Uma vez, num dos tipos de discussão pouco séria que costumo travar
sobre futebol, eu, ele e outros comensais estávamos numa mesa de restaurante,
se não me engano na Argentina, e começamos a escalar nossas seleções
brasileiras de todos os tempos. Um exercício inútil, claro. Seria muito melhor
discutirmos a respeito da gestão moderna de futebol. Mas, irresponsavelmente,
nem sequer nos aproximamos das emoções da gestão esportiva, ficamos montando
seleções imaginárias. Ainda lembro da de Tostão:
Gilmar;
Carlos Alberto, Mauro, Calvet e Junior; Falcão, Pelé e Rivellino; Garrincha,
Jairzinho e...
Ao
encerrar sua seleção, Tostão disse:
–
Não vou me colocar, não. Eu coloco o Romário.
Talvez
hoje ele escale outra seleção, sei lá, mas o que me chamou atenção, naquela
noite, foi que ele, entre tantos, escolheu o Jairzinho. E justificou:
– O
Jairzinho era um craque injustiçado. Jogava muito mais do que achavam que ele
jogava.
E
jogava num dos grandes Cruzeiros, como Zé Carlos e o próprio Tostão. Pois vi
esses Cruzeiros em ação. Por isso, sei que o atual Cruzeiro é uma imagem pálida
daqueles supertimes. Sei que não existe mais, no Brasil, nenhum time como
aquele. Como será que se formam os Tostões, os Zicos, os Rivellinos, os
Falcões, os Renatos, os Ronaldinhos tantos? Decerto que nos fóruns de futebol.
Que vontade de participar de um.
A
propósito, a minha seleção brasileira de todos os tempos era, só com os que vi
jogar:
Manga;
Leandro, Luis Pereira, Mauro Galvão e Junior; Falcão, Zico, Ronaldinho e
Rivellino; Romário e Ronaldo.
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