21
de agosto de 2014 | N° 17898
L.F.
VERISSIMO
A salada
Vivemos
na era da comunicação total. Basta ter um computador – ou melhor (ou pior), um
telefone esperto – para ter à mão toda a informação de que se precisa. Já existe
a tecnologia para transmitir imagens holográficas de pessoas e coisas, que se
materializam, em três dimensões, em qualquer lugar, a qualquer distância, como
se estivessem lá.
Nas
campanhas eleitorais, já é teoricamente possível o candidato ter contato com o
eleitorado sem sair de casa. O chamado “corpo a corpo” não tem mais sentido. Ou
tem, mas sem os corpos presentes. O candidato pode estar no palanque de um comício
em Maceió e num comício em Porto Alegre ao mesmo tempo, dizendo as mesmas
coisas. É ele e não é ele, é sua imagem transmitida e multiplicada.
O próprio
comício torna-se uma coisa obsoleta. E diminuem as viagens dos candidatos em
aviões que às vezes caem, um risco proporcionalmente maior num país deste
tamanho. Tudo isto é fazível mas ainda é ficção científica e vai demorar para
ser realidade. Provavelmente nunca será.
A
política irá sempre exigir a presença física do candidato, o aperto de mão, a
pele contra pele e o beijo no bebê. Entre o que poderia ser e o que continuará a
ser há um abismo, e foi nesse abismo que desapareceu o Eduardo Campos, como já tinham
desaparecido outros antes dele e (bate na madeira) desaparecerão outros depois.
A
morte de Campos e o alvoroço que causou no seu partido e nos partidos
coligados, indecisos quanto à confirmação ou não da Marina Silva como candidata
da aliança, mostra mais uma vez a salada ideológica e programática que é a política
brasileira. Parte da aliança faz restrições a Marina, o que deve levar seus
apoiadores a estranhar que as restrições não tenham aparecido quando ela foi
escolhida como segunda da chapa.
Qual
é a posição da maioria da aliança quanto às posições da Marina, como sua crítica
ao mega-agronegócio, por exemplo? Não se duvida do socialismo sincero da sigla
PSB, mas que espécie de socialismo une o resto da aliança? A salada não exclui
ninguém, nem o PT, com suas chamadas “alianças espúrias”, epitomadas naquela
visita à casa do Maluf, uma cena da qual o Lula poderia ter nos poupado.
Nenhum
eleitor brasileiro sabe exatamente no que está votando, nessa mistura do
pragmatismo dos grandes partidos com o oportunismo dos partidos caroneiros, que
não representam nada a não ser sua própria gula por um naco de poder. Uma
salada decididamente indigesta.
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