31
de agosto de 2014 | N° 17908
ISMAEL CANEPPELE
Redução da maioridade penal: um tiro
no pé
Não
é pouco o debate em torno da redução da maioridade penal, principalmente em
época de eleições. Munidos da certeza de que penalizando o menor infrator boa
parte da complexa problemática em torno da segurança pública estará resolvida,
certos políticos prometem lutar com unhas e dentes pelo cidadão de bem, refém
desses delinquentes beneficiados por uma legislação omissa. Mas é importante
estar atento aos números. Afinal de contas, você já se perguntou, qual o
percentual de homicídios cometidos por adolescentes no Brasil?
Segundo
estimativas da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da
Justiça (Senasp), apenas 0,5% dos crimes envolvendo morte são cometidos por
menores de idade. Somando-se todos os crimes, incluindo homicídio, furto, roubo
e tráfico de drogas, o índice de participação de adolescentes sobe para 0,9%,
no Brasil. De todos os adolescentes cumprindo pena em instituições
assistenciais, 43,7% respondem a crimes por furto e roubo, e 26%, por crimes
relacionados ao tráfico.
Importante
também levar em consideração que a maioridade penal aos 18 anos é cláusula
pétrea na legislação. Diminuir essa maioridade exigiria uma nova Constituição
ou uma revisão constitucional ampla. Isso significa que, sempre que um
candidato prometer lutar pela redução da maioridade penal para os 16 anos, essa
luta exigirá um esforço homérico. Em curtas palavras, trata-se de uma promessa
praticamente impossível de ser cumprida.
Nesse
contexto, o pensamento do Ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, acrescenta
bastante ao debate: “Nossos presídios são verdadeiras escolas de criminalidade.
Muitas vezes, pessoas entram na prisão por terem cometido delitos de pequeno
potencial ofensivo e, pelas condições carcerárias, acabam ingressando em
grandes organizações criminosas. Porque, para sobreviver no cárcere, é preciso
entrar para o crime organizado.
Reduzir
a maioridade penal significa negar a possibilidade de dar um tratamento melhor
para um adolescente. Boa parte da violência no Brasil, hoje, tem a ver com
essas organizações que comandam o crime de dentro dos presídios. Quem não quer
perceber isso é alienado da realidade. Criar condições para que o jovem vá para
esses locais, independentemente do delito cometido, é favorecer o crescimento
dessa criminalidade e dessas organizações. É uma política equivocada e que
trará efeitos colaterais gravíssimos”.
A
Fundação Casa, de São Paulo, apresenta dados ainda mais contundentes, mostrando
que 41,8% do total de jovens infratores cometem crimes ligados ao tráfico.
Esses dados comprovam que a ampla maioria dos adolescentes que seriam
encarcerados não estaria presa por atentado à vida, mas por roubo e
envolvimento com o comércio de drogas. Frente a essa problemática, o senador
gaúcho Paulo Paim apresenta um pensamento interessante. Segundo ele, deve-se
dobrar ou triplicar a pena de adultos que jogam no jovem menor a
responsabilidade por um crime. Esse pensamento dá continuidade a um projeto já
apresentado pelo então senador Aloísio Mercadante, e que hoje se encontra
parado nas comissões.
Em
época de eleições, em que a maioria dos candidatos parece possuir a fórmula
mágica para complexos problemas sociais, é importante estar atento aos números
que configuram realidade. Do contrário, entregaremos importantes comandos do
país, não a quem elaborar um projeto viável de governo, mas uma promessa
milagrosa de campanha.
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