quinta-feira, 14 de agosto de 2014


14 de agosto de 2014 | N° 17890
EDITORIAL ZH

UMA PERDA IMENSURÁVEL

O candidato à Presidência da República Eduardo Campos, do PSB, carregava no sangue uma história familiar de comprometimento com as causas sociais, herdada de seu avô e padrinho político Miguel Arraes.

O Brasil perdeu ontem uma alternativa importante para o seu futuro. O jovem político pernambucano Eduardo Campos, morto tragicamente na queda de um jatinho particular em Santos, juntamente com quatro assessores e dois pilotos, representava na atual disputa presidencial a chamada terceira via, com potencial para quebrar a bipolarização histórica entre o PT, atual ocupante do poder, e o PSDB, seu antecessor.

Representava, também, um sopro de novidade na política nacional. Eduardo Campos, do PSB, carregava no sangue uma história familiar de comprometimento com as causas sociais, herdada de seu avô e padrinho político Miguel Arraes, falecido em 2005, coincidentemente também num 13 de agosto. E, aos 49 anos, também carregava no currículo uma recente e bem-sucedida experiência de dois mandatos como governador de Pernambuco, de onde saiu com índices históricos de aprovação popular.

Estava, portanto, credenciado para pleitear uma fatia importante do eleitorado na atual disputa presidencial, embora ocupasse apenas a terceira posição nas pesquisas de intenção de voto já apuradas. Mas vinha conquistando espaço desde que tomou a surpreendente decisão de coligar-se com a ex-ministra Marina Silva quando esta não conseguiu o registro de seu partido, a Rede Sustentabilidade.

A ousadia era uma das marcas da breve carreira política de Eduardo Campos: com três mandatos parlamentares, dois mandatos de governador e participação no ministério de Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a presidência nacional do PSB em 2005 e, no ano passado, surpreendeu ao optar pela candidatura própria, em vez de continuar apoiando a administração petista.

Perde o Brasil, portanto, uma referência como homem público. E perde, acima de tudo, uma liderança política comprometida com a democracia, com o desenvolvimento e com as liberdades individuais de seu povo. Mas a perda maior, imensurável, é a do ser humano, pai de família, filho ilustre de Pernambuco e homem reconhecido por seus pares pela convivência civilizada, pelo diálogo inteligente e pela integridade.

O primeiro dever do país diante de uma perda assim devem ser a solidariedade e o conforto aos familiares e amigos do ex-governador e das demais pessoas vitimadas no acidente. Só depois do luto é que se pode pensar mais refletidamente nas consequências eleitorais do inesperado desaparecimento do político pernambucano.

Porém, uma frase extraída da entrevista que ele concedeu na última terça- feira ao Jornal Nacional já pode ser adotada pelos brasileiros de todas as tendências políticas em sua homenagem: “Não vamos desistir do Brasil!”.


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