sábado, 9 de agosto de 2014


10 de agosto de 2014 | N° 17886
L. F. VERISSIMO

Lloyd George

Foi o escritor inglês H.G.Wells quem chamou a I Guerra Mundial de “a guerra para acabar com todas as guerras”, e foi outro inglês, David Lloyd George, quem disse que ela era a guerra para acabar com todas as guerras, e que a próxima também seria. Desde então, a Humanidade vive entre a esperança de Wells, para quem o mundo certamente aprenderia a jamais repetir a barbaridade da primeirona, e o cinismo fatalista de Lloyd George, que no final tinha razão.

A estupidez humana mostrou ser mais forte do que qualquer apelo racional, e a II Grande Guerra foi uma continuação da I, só com armas mais mortais, culminando com as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, a mais violenta agressão de um país a outro na História. E não é preciso ir mais longe do que o noticiário de hoje para ver que uma das características da estupidez humana é a reincidência.

Outra do Lloyd George. Como primeiro ministro britânico no fim da I Guerra, reuniu-se com o premier francês Georges Clemenceau e o presidente americano Woodrow Wilson, em Versalhes, para discutirem o que fazer com a derrotada Alemanha. Clemenceau e Wilson queriam uma punição mais forte, Lloyd George defendia um castigo mais brando. Na volta de Versalhes, lhe perguntaram como ele tinha se saído na reunião, e ele respondeu: “Bem, levando-se em conta que eu estava entre Jesus Cristo e Napoleão”.

Mas a ironia e o discernimento abandonaram Lloyd George quando ele foi a Berlim conversar com Hitler, que começava a dar os primeiros sinais de que o espaço vital que reclamava para a nova Alemanha, o “lebensraum”, iria incomodar os vizinhos. E Lloyd George voltou cheio de admiração pelo espírito que sentiu no povo alemão, inspirado pelo Führer.

Pior: botou suas boas impressões no papel, e elas voltaram para atucaná-lo muitas vezes no resto da sua vida. E ironia mesmo foi o fato de Hitler e o nazismo serem, indiretamente, crias do Tratado de Versalhes e do ressentimento alemão pelas reparações exigidas pelos vitoriosos na I Guerra, com a assinatura contrariada de Lloyd George.

AGRADECIMENTO


Somos uma espécie irracional e sem salvação, mas há o que nos redime. A coisa mais bonita feita no Brasil, depois de algumas igrejas barrocas e da Patricia Pillar, é a música Senhorinha, do Guinga e do Paulo César Pinheiro, cantada pela Mônica Salmaso. E agora foi lançado um disco só com músicas da dupla na voz límpida como água de vertente da cantora. Nós não merecemos, mas agradecemos de coração.

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