24
de agosto de 2014 | N° 17901
CÓDIGO
DAVID | David Coimbra
As brasileiras nos
EUA
É
fácil reconhecer uma brasileira andando pelas ruas arborizadas da Nova
Inglaterra. Não, não é por sua beleza miscigenada, ou pelo jeito maroto de
mexer os quadris, nem pela sua manemolência típica dos trópicos, ou pela cor do
pecado que faz tão bem.
É
pelo salto alto.
As
mulheres aqui não usam salto alto. Você vê uma mulher com os calcanhares a seis
centímetros do solo: brasileira. É certo.
Outra
coisa: ao contrário da lenda, elas são bonitas, as americanas. E não são todas
loiras com peitos do tamanho de bolas de futsal e bundas com formato de CDs.
Não. São mulheres não raro curvilíneas, em geral magras, afeitas ao exercício
físico, mas que se vestem com simplicidade surpreendente – sapatos de solado
baixo, calças largas, camisetas despretensiosas. As mulheres brasileiras só se
vestem assim quando estão em casa, no dia da faxina.
E
tem mais: as americanas não sensualizam na hora de caminhar. Elas não rebolam!
O que me forneceu uma informação a respeito DAS BRASILEIRAS: elas APRENDEM a
rebolar. São treinadas para isso. Adrede preparadas. Quer dizer: é algo
premeditado. Em que momento da vida essa transformação acontece? Será que são
as mães que as ensinam? “Agora, minha filha, joga essa anca pra lá e a outra
pra cá. Assim, assim... Suingue, entende? Ginga. Esquindolelê. Esquindolalá.
Ziriguidum, minha filha. Ziriguidum. Isso!”
GISELE
NAS PRAÇAS
Gisele
Bündchen vive em Boston. Ela está sempre correndo nos parques da cidade com
aquelas suas pernas compridas e douradas, e volta e meia é encontrada brincando
com uma ninhada de crianças nas praças à margem do Charles River. Ou seja: o
creme, a crocância, o suflê da beleza feminina mundial passeia por aqui.
Já
falei com vários americanos que a viram, mas nenhum deles se referiu à beleza
dela. Eles sempre falam NO MARIDO da Gisele, Tom Brady, astro do futebol
americano, camisa 12 do New England Patriots.
Pode
isso? Não dá para entender esses americanos.
PELADAS
NOS PARQUES
Outro
dia, eu estava em um parque e vi que lá adiante chegou um casal de carro. Eles
tiraram do porta-malas um guarda- sol, duas cadeirinhas de alumínio e uma
grande sacola de vime. Caminharam até o centro do gramado. Lá, o homem fincou o
guarda-sol no solo, entre as folhas de grama, e armou as cadeirinhas. Enquanto
isso, a mulher ia se despindo: tirou a blusa, tirou o short, tirou as
sandálias, ficou só de biquíni, deitou-se numa canga e pôs-se a sorver o sol. O
homem sentou-se sob a sombra, abriu o Boston Globe e começou a ler o Wianey
Carlet deles, falando dos Red Sox.
Pena
que não tinha um oceaninho por perto. Que falta faz um oceaninho de vez em
quando.
Elas
fazem isso, essas americanas. Você está andando na cidade, caminhando por uma
praça cheia de crianças gritando coisas em inglês, e ali adiante, num naco de
grama, há uma mulher estendida, de biquíni, em geral lendo um livro. Não estou
falando de parques; estou falando de praças mesmo, no meio de quadras
movimentadas. Tudo muito natural. E é mesmo, não é.
Mulheres
seminuas nas praças, pode. Homens bebendo vestidos, não pode.
Todo
mundo faz piquenique nas praças e nos parques, em Boston. Agora mesmo, na
semana passada, eu e a Marcinha convidamos o meu médico, André Fay, e a
namorada dele, Gabriela, que também é médica, para comemorar o aniversário do
meu filho fazendo piquenique num parque.
Preparei
alguns dos meus famosos cachorros-quentes, muito superiores a esses hot dogs
daqui, que nesses hot dogs daqui, acredite!, não vai mostarda nem queijo
ralado, só ketchup vulgar e cebola cozida, pois preparei o meu cachorro-quente
com o molho especial e secreto que só eu sei fazer e que revolucionaria a
culinária norte-americana, se o apresentasse aos ianques, porque meu
cachorro-quente, quem provou sabe, rivaliza com o cachorro-quente do Rosário,
que saudade do cachorro-quente do Rosário, então, como dizia, preparei meus
cachorros- quentes coruscantes e fomos para o parque.
Mas
nada de uma boa garrafa de tinto, como fazem os parisienses e o meu amigo Dinho
na Pont des Arts; nada de canecos de chope, como fazem os alemães nos calçadões
de Königstein; nada de sangria gelada, como fazem os espanhóis de Salamanca nas
plazas mayores. Nada disso. Álcool é proibido na rua, dá polícia e tudo mais.
Então, Coca-Cola, suco, água de coco. E paciência.
Bem,
talvez eles estejam certos. Talvez mulheres seminuas e homens vestidos bebendo
na mesma praça não fosse uma boa combinação.
Ou
talvez fosse ótima. Não sei. Não dá para entender esses americanos.
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