14
de agosto de 2014 | N° 17890
CARLOS
GERBASE
COMPRA-SE POLÍTICA
Vou
explicar como funciona uma campanha política. Há um candidato ou candidata com
ideias para administrar o estado ou o país. Alguns não têm ideia alguma, mas
vamos ser otimistas: estes costumam ser tão desastrados quando chegam ao poder
que não se reelegem.
Há um
grupo de políticos profissionais e amadores, do mesmo partido do candidato (ou
da coligação da hora), que elaboram um plano de governo cheio de belas
propostas para apresentar ao público. Eles também acompanham o candidato em
suas andanças e opinam sobre o que ele deve dizer e fazer. Alguns não têm a
menor ideia do que se deve dizer e fazer. São os que mais opinam.
Há um
grupo de profissionais de comunicação – formados em publicidade, jornalismo,
relações públicas e produção audiovisual, mais os cunhados de alguns deles – que
têm a tarefa de elaborar os programas de TV e rádio, cada vez mais decisivos na
definição dos rumos da campanha, mais as toneladas de lixo espalhadas na rua na
forma de cartazes, bonecos e outras manifestações gráficas caras e horrorosas.
Há um
grupo de arrecadadores de dinheiro, ligados aos partidos, para pagar todo esse
lixo, mais o pessoal do rádio e da TV, e explicar porque o pagamento está atrasado.
Alguns ficam explicando durante anos. Ou colocam seus cunhados para explicar. Ou
param de explicar.
E há
um grupo de profissionais de marketing, com seus respectivos cunhados, que vão
fazer tantas pesquisas de opinião pública quanto o dinheiro do caixa da
campanha permitir, para saber exatamente o que o eleitor quer ouvir, de modo a
ganhar o seu voto. Essas pesquisas são quantitativas (as mais comuns, de eficiência
muito discutível) e qualitativas, as que mais importam na elaboração dos
programas.
Mede-se
cientificamente, através de grupos estratificados por faixa etária, condição
social e inclinação ideológica, o que o eleitor precisa ver e ouvir para votar
no candidato certo. Ou errado, é claro. Não faz diferença.
Há reuniões
entre todos esses grupos, raramente com a presença do candidato, para verificar
se o rumo está certo, de acordo com as pesquisas e com “a intuição que vem das
ruas”. Sempre que as pesquisas apontam que está errado, muda tudo, ou quase
tudo, e a intuição que se dane. Os cunhados permanecem, porque eles ganham
menos. O Brasil não inventou essa forma de fazer política. Copiamos tudo da
maior democracia do mundo. Sei que não há sistema melhor, mas tá na hora
inventar outro.
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