sexta-feira, 15 de agosto de 2014


15 de agosto de 2014 | N° 17891
DAVID COIMBRA

Brasil x EUA

É óbvio que viver nos Estados Unidos é melhor do que viver no Brasil. É uma vida... o que direi agora parecerá contraditório, parecerá até absurdo, mas a verdade é que a vida nos Estados Unidos é mais segura, mais pacífica... mais calma do que no Brasil.

Porém, ah, porém, isso não significa que os Estados Unidos sejam melhores do que o Brasil, nem que os americanos sejam melhores do que os brasileiros. Não são.

A prova é o comportamento dos brasileiros nos Estados Unidos. Ou no Japão, ou na Austrália, ou em qualquer país da Europa Ocidental. Nesses lugares supostamente tão mais civilizados, os brasileiros se comportam como os locais, com educação, com respeito, com discrição, com civilidade.

Os Estados Unidos são continentais; o Brasil também. Os Estados Unidos estão repletos de belezas e recursos naturais; o Brasil também. Os médicos, os jornalistas, os empresários, os operários e, pasmem!, os políticos brasileiros não são piores do que os americanos. Mas a medicina, o jornalismo, as empresas e a política dos Estados Unidos são melhores do que seus similares do Brasil.

Por quê?

A vantagem dos Estados Unidos começa no começo: na colonização. Não, não é o que você está pensando. Não estou dizendo que os colonizadores ingleses eram superiores aos portugueses. Isso é uma bobagem de leve laivo racista. A principal colônia inglesa, a chamada joia da coroa, era a Índia, que não é nenhum modelo de bem-estar social. Já para a Austrália, os ingleses só mandaram ladrões, assassinos, banidos religiosos e escroques de todo gênero, e a Austrália, sim, é um dos modelos de bem-estar social.

Qual é, então, a diferença?

É o tipo de colonização. Os ingleses que foram para a Austrália e para os Estados Unidos foram para ficar, para construir uma nação. Os ingleses que foram para a Índia, bem como os portugueses que foram para o Brasil, só queriam tirar da terra tudo o que havia de valioso e levar o mais rápido possível para a matriz, onde se repimpariam longe da selvageria tropical.

O Brasil e a Índia cresceram tortos porque ninguém se importa em estabelecer regras num local em que só se está de passagem. Tudo no Brasil foi sempre provisório e, de certa forma, continua sendo. O Brasil não fica pronto nunca.


Mas um dia o Brasil haverá de compreender que é preciso voltar ao começo, que é preciso recomeçar, e que a única forma de recomeçar é pelas crianças, investindo maciçamente, quase que unicamente nas crianças. Um dia. Só que vai demorar. Testemunhando a exibição triste, morna e deprimente dos candidatos a presidente da República, suspiro de dor. E sei que ainda vai demorar.

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