11
de agosto de 2014 | N° 17887
MARCELO
CARNEIRO DA CUNHA
HORA CERTA E LUGAR CERTO
Limitada
a oito episódios, The Honourable Woman começou a ser exibida em julho, no
momento em que israelenses e palestinos, mais uma vez, estão em crise. A série
conta justamente a história de Nessa Stein, uma judia inglesa com fortes laços
com Israel que acredita em uma solução pacífica para o conflito.
O
pai dela, dono das poderosas indústrias Stein, fazia armas para Israel. Ela,
agora no comando do império da família, resolve instalar fibra ótica e ajudar
na economia e na integração dos palestinos ao resto do mundo. Claro que boas
intenções esbarram em milênios de desentendimentos, e nada acontece naquela
região sem que interesses dos mais diversos se sintam ameaçados. A cada passo
de Nessa, surgem reações contrárias e imprevisíveis, vindas de israelenses, de árabes,
do serviço secreto inglês, que também pede o dedinho por lá, e, claro, dos
americanos.
Um
tal pot-pourri de visões conflitantes nos permite navegar pelos turvíssimos
mares da Real Politik do Oriente Médio. Todo mundo tem um segredo, ou vários. Todo
mundo tem uma agenda escondida, todo mundo dificulta o que poderia ser fácil. Os
interesses das pessoas normais, nas ruas, que querem viver suas vidas, contam
pouco nesse jogo.
Um
dos encantamentos dessa Era do Ouro das séries é o fato de que elas não fogem
da luta e se metem nos temas mais complicados e nos labirintos mais labirínticos
sem maiores medos. As coisas que acontecem com Nessa são de estragar o dia e a
semana do vivente que assiste. E isso que ela é uma riquíssima representante da
elite europeia, teoricamente protegida dos males que assolam os habitantes
comuns. Imaginem o que sobra para o resto do povo que vive, ou tenta viver, por
ali.
O
Brasil é um lugar curioso. Aqui vivem em paz milhões de judeus e árabes. O
truque é que a gente esquece de onde veio, quando chega aqui. Uma professora
palestina me perguntou uma vez por “escritores árabe-brasileiros”. Como vocês,
levei um tempo coçando a cabeça antes de pensar no Alberto Mussa, no Milton
Hatoum. A gente não pensa nessas coisas. Lá, na fervura dos ódios religiosos e étnicos,
nos muitos erros e sobreposição de interesses opostos em um lugar desse
tamanhinho, isso não parece ser possível, talvez por faltar o espaço que aqui
abunda.
Não
sei ainda o que vai ser de Nessa Stein, mas grudei e não vou desgrudar até o
fim. Façam o mesmo.
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