13
de agosto de 2014 | N° 17889
MARTHA
MEDEIROS
Onde fui amarrar meu bode?
Sempre
simpatizei com essa expressão, tanto que a uso direto em conversas entre
amigos, mas nunca a relacionei com meu trabalho. Pois chegou o momento: onde
fui amarrar meu bode na hora em que resolvi dar pitaco sobre Torres?
Não
leio o que rola nas redes sociais, mas já soube que fui esculhambada num grau
temeroso: não duvido que temperem minha casquinha de siri com soda cáustica
caso eu ouse retornar à cidade.
Bom,
aos fatos. Quarta passada, publiquei uma bronca por a praia da minha infância não
ter realizado seu potencial, com a burrada de ter falado em beleza, charme e
bom gosto quando se sabe que são valores relativos, e de ainda ter concluído o
texto subestimando o estrago dos prédios altos à beira-mar, como quem diz: perdido
por um, perdido por mil. Com 20 anos de colunismo nas costas, eu já deveria ter
aprendido algumas coisinhas sobre o poder desastroso das ironias.
A
boa notícia é que estou desinformada, segundo os moradores. É possível. Fui a
Torres poucas vezes nos últimos anos, por no máximo 48 horas, sendo que a última
foi em fevereiro deste ano, quando me hospedei na Prainha, que é onde a Torres
real ainda equaliza com a Torres da minha fantasia.
Não
circulei, não fiquei 10 dias, um mês, e por isso não sabia nada sobre o que me
contaram: que a atual gestão está empenhada em corrigir os descasos das gestões
anteriores, que Torres faz parte de uma Rota Gastronômica, que há muitos hotéis
e pousadas de primeira linha, que turistas estrangeiros costumam visitar a cidade
com frequência, que um cinema 3D será inaugurado em novembro, que não há mais
areia sobre o calçadão e que eu sou uma toupeira, claro.
Assim
como eu não sabia dessa evolução toda, talvez muitos brasileiros também não
saibam, já que Torres não costuma ser indicada como destino turístico imperdível.
A revista Claudia, publicação feminina de maior circulação do país, veiculou
uma matéria na edição de julho cujo título foi “Seja bem-vindo, tchê!”, em que
personalidades nacionais nascidas aqui (escritores, atores, atletas,
blogueiros, apresentadores, chefs de cozinha) recomendavam os lugares que não
se deve deixar de visitar no Rio Grande do Sul.
Eles
citaram as cidades da Serra, os aparados, os vinhedos, o pampa, algumas cidades
do Interior e a Capital. O esquecimento da mais bela praia do litoral gaúcho
pode ter sido por causa do inverno, mas aconteceu: Torres foi mencionada uma única
vez. Modestamente, por mim. Que minha defesa arrole isso nos autos.
Continuo
achando que Torres merecia uma infraestrutura turística de muito mais
qualidade, mas já que os moradores garantem que estão chegando lá, retiro o desânimo,
peço desculpas pelo mau jeito e em breve voltarei à cidade para conferir in
loco. Garçom, a minha caipirinha sem cianureto, por favor.
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