26
de agosto de 2014 | N° 17903
MOISÉS
MENDES
O delator
A
figura mais temida por integrantes de grupos clandestinos não é o inimigo, o
delegado, o promotor, o juiz. É o delator. Um delator implode uma turma.
Com
uma delação, monta-se a acusação de formação de bando ou quadrilha, configurada
hoje como associação criminosa. Mas o delator só é delator quando se envolve
com gente graúda. Para o resto, para os sem-gravata, são dedos-duros. Ou
alcaguetes.
Não
interessa se estão dedurando gente do bem ou do mal. Judas foi o maior de todos
os alcaguetes. É um coitado perto de um Roberto Jefferson, que foi um
dedo-duro. E, pensando em cifras, Roberto Jefferson poderá ser um coitado perto
de um Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras que ameaça dedar os
parceiros. Esse tem pinta de delator.
Jefferson
diz ter recebido R$ 4 milhões do PT, como pagamento ao seu PTB por apoios
prestados e a prestar. Rebelou-se porque esperava cinco vezes mais. Saiu
alcaguetando. É uma miséria perto da fortuna de Costa. Só em contas na Suíça,
ele teria US$ 23 milhões.
O
alcaguete é um ressentido metido a honesto, como aquele agente idiota que
sonhava em ser o chefe do FBI, foi preterido e virou o informante do caso
Watergate. Ou vira dedo-duro por ter ganho menos do que esperava, como
Jefferson. Ou ganhou tudo que queria e vai apontar os comparsas só para ficar
menos tempo na cadeia, como parece ser o caso de Costa.
Veja
o histórico do ex-diretor da Petrobras. Não entendia nada de petróleo.
Pertencia ao PP, foi guindado a alto cargo por conta de acordos com a base de
apoio ao governo, chegou a presidir interinamente a maior estatal brasileira,
tinha autonomia para amarrar negócios de bilhões. E ninguém sabia como agia?
Você
sabe, você já passou por isso aí na repartição ou na firma. Costa é dessas
figuras que circulam pelos corredores de governos e empresas privadas com a
empáfia que tenta encobrir a farsa de quem não domina nada.
Nunca
viu uma gota de petróleo antes de chegar ao cargo, tinha função com poder bem
acima do que de fato representava, fazia manobras suspeitas e continuava
mandando. Até que um dia caiu. Mas todo mundo sabia, até os boys da Petrobras,
quem era Paulo Roberto Costa.
A
advogada do homem disse que ele está inquieto. Não esperava ficar tanto tempo
preso. Se todo graúdo é solto (ele chegou a ser libertado e foi preso de novo),
por que continua encarcerado, se não foi julgado? A delação premiada é a sua
chance.
Mas
ele não pode fazer a deduragem parcial da turma miúda do esquema na Petrobras,
dos que ficavam com as migalhas dos contratos com empresas e outras negociatas.
Precisa
dar os nomes dos grandões, como fez o executivo Everton Rheinheimer, delator do
esquema corrupto da Siemens e da Alston com os tucanos no metrô de São Paulo.
Ou será um reles alcaguete.
Judas
ganhou meia dúzia de moedas para alcaguetar. Antes, já roubava as doações
recebidas pelos colegas. Era o único ladrão da turma e tinha ciúme de Jesus.
Como
delator, Jefferson teve a compensação da vingança. Tinha ciúme de José Dirceu e
queria ser o grande amigo de Lula. E Costa pode ganhar como prêmio menos tempo
de cadeia. Mas terá de se esforçar para não ser medíocre também como delator.
Agora,
trocando de assunto. Se vê cachorro sem dono, cavalo sem dono e até Mega Sena
de R$ 29 milhões sem dono. Mas você já tinha visto jatinho sem dono?
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