24
de agosto de 2014 | N° 17901
L.
F. VERISSIMO
O Álvaro
insistiu,
Insistiu
e finalmente convenceu o amigo a acompanhá-lo a uma academia de ginástica. O
amigo – Rubens – andava deprimido. Acabara um namoro por uma bobagem, uma briga
sobre a Marina Silva. Segundo Álvaro, nada acabava com a depressão como uma
esteira.
O
Rubens ainda resistiu. – Esteira? Eu tenho um infarto. – Tem nada. – Eu não
aguento dois minutos.
–
Aguenta. – Sei não... – Vamos lá. Na academia, você conhece gente. Tem mulheres
sensacionais. Pode até pintar um namoro, pra você esquecer a Norminha.
–
Será? – Vamos lá! – Se eu morrer nessa esteira, você me paga.
– Você
não vai morrer. Vai se exercitar. Vai cansar no começo, vai ter dor no corpo...
Depois só vai pensar no seu corpo e esquecer todo o resto. Inclusive a
Norminha. – Você garante?
–
Por que você acha que as pessoas vão à academia? Pela ginástica, claro. Para
emagrecer, ficar em forma, tudo isso. Mas principalmente para se concentrarem
no próprio corpo e esquecerem todo o resto. O que são exercícios senão gestos
repetidos, como os mantras que as pessoas entoam para não pensar, para
ultrapassar o pensamento e tudo ao que o pensamento induz, como a angústia? E a
depressão?
– Se
você diz...
– E
vou dizer mais. Sempre achei seu relacionamento com a Norminha meio doentio.
Uma obsessão, isso. Não era amor, era mania. Você precisa se libertar da mania
da Norminha e recuperar sua mente, esvaziando-a. E só há um lugar para isso.
–
Qual? – Uma esteira.
O
Rubens não morreu na esteira mas, no primeiro dia, caiu e quebrou o nariz.
Quando soube do acontecido, a Norminha correu para o seu lado, aflita, e os
dois se reconciliaram, prometendo nunca mais discutir sobre política.
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