09
de agosto de 2014 | N° 17885
PAULO
SANT’ANA
O Morro da
Polícia
O
crime ecológico que cometeram milhares de porto-alegrenses está a olhos vistos
para quem avistar o Morro da Polícia: foram erguidas milhares de habitações
encosta acima, fazendo desaparecer a vegetação útil que havia no local.
Certamente,
essas construções agridem o meio ambiente, atacam a respiração, além de não
estar o local preparado para receber tamanha multidão.
Mas
logo em seguida o poder público socorre os novos habitantes das improvisadas
habitações e lá instala água e esgoto. Passam também a recolher lixo. Pronto,
está instalada a civilização, está regularizada a irregularidade, a cidade
encomprida para cima do morro, e se podem ver já linhas de ônibus circulando
por ali.
Em
breve, se erguerão prédios destinados às repartições públicas – destacamentos
policiais já há por lá, e até posto de saúde foi instalado.
Nem
sei qual o nome do arrabalde recém-erguido, mas os cartórios de imóveis já
registram os lotes e as residências, o que quer dizer que quem se instalou por
lá gratuitamente já revende seus prédios e lucra bom dinheiro: custo zero
inflacionado rapidamente.
É a
civilização!
Aconteceu
nesta semana em Faxinal do Soturno: pai e filho tripulavam um carro por uma
estrada, quando o veículo foi de encontro a um barranco, ferindo-se o filho, um
rapazinho, que ficou com o corpo preso às ferragens.
O
pai, que não tinha habilitação para dirigir, não teve dúvida: abandonou o filho
ferido e preso às ferragens e fugiu do local, só se apresentando à polícia
ontem, três dias depois.
O
filho foi recolhido a um hospital.
Não
me peçam explicações para essa atitude cruel do pai. Ele mesmo resolveu ontem
na polícia não prestar nenhuma declaração, só vai explicar o fato na Justiça.
Fosse
um desconhecido que tivesse sido abandonado pelo motorista, ainda se poderia
entender. Mas era um filho, um fruto do seu sangue.
Este
episódio me calou fundo como mais uma das crueldades de que são capazes os
seres humanos.
Um
homem tosse muito numa agência de banco onde estou pagando algumas contas,
chega a chamar a atenção dos circunstantes.
Penso
comigo enquanto olho os meus papéis: de que macacos catarríneos deve descender
esse homem de tosse tonitruante que alarma todos os clientes da agência do
banco?
O
ser humano seria perfeito se não tivesse doenças – acho que até nem morreria
nunca.
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