RUTH
DE AQUINO
08/08/2014
20h58 - Atualizado em 08/08/2014 21h00
A força dos nulos, brancos e
indecisos
Não
cruzem os braços, não sejam meros espectadores. Vamos votar, está combinado?
Eles
são 24%, quase um quarto do eleitorado brasileiro. Tenho simpatia por esse exército
de deserdados, órfãos, ou qualquer nome que se queira dar aos 34 milhões de
brasileiros aptos a votar, mas dispostos a abrir mão de escolher o próximo
presidente. Os dados são da última pesquisa do Ibope, divulgada na quinta-feira.
Tenho
simpatia, mas, diante da encruzilhada em que se encontra o Brasil, sinto
vontade de dizer: escolham um candidato, mesmo que não estejam totalmente
convictos, mesmo que tenham de cobrar depois. Sou contra o voto obrigatório,
por considerar o voto um direito e não um dever. Mas, se assim é a lei em nosso
país, vamos votar em alguém, está combinado?
Não
cruzem os braços, não sejam meros espectadores, não se apoiem na falsa
comodidade de pensar que nada têm a ver com isso que está aí. Numa democracia,
somos todos responsáveis, em algum grau, pelos rumos da cidade, do Estado e do
país.
São
vários os sentimentos por trás da vontade de anular ou deixar branco o voto,
cara a cara com a urna. Desencanto, revolta, indiferença, impotência,
desinformação, desconfiança. Vontade de não se misturar à corja de políticos
que só sabem aumentar os impostos e roubar a educação, a saúde, a habitação, o
transporte, a segurança. Mentem com desfaçatez. E roubam até dos pobres.
Simpatizo
com os nulos, brancos e indecisos, mas jamais consegui, na hora de votar,
assumir esse “protesto” inútil. Lamento que o eleitor jovem tenha se afastado,
diante da sucessão de escândalos e alianças sujas no partido que mais prometeu ética
na recente história política brasileira. Entre 2010 e 2014, caiu 31% o número
de eleitores entre 16 e 18 anos. Por que, Lula? Por que, Dilma? Por que, oposição?
É uma questão de agenda, arrogância, credibilidade ou tudo junto?
Muitos
jovens também se desiludiram com a violência e o vandalismo dos protestos de
rua. Protestos que começaram vestidos de branco e terminaram de preto. Numa
ditadura, o extremismo se entende. Numa democracia, é patético. Foi covarde e
nojenta a repressão policial – de uma truculência e omissão inaceitáveis. Mas
os autoproclamados líderes dos protestos afastaram o povo, que não quer um país
em chamas.
Há quase
142 milhões de eleitores no Brasil. De acordo com a última pesquisa do Ibope,
Dilma Rousseff (PT) tem 38%; Aécio Neves (PSDB), 23%; Eduardo Campos (PSB), 9%;
outros, 6%. Os nulos, brancos e indecisos somam 24%. Mais que o segundo
colocado na disputa para a Presidência.
Trinta
e quatro milhões de brasileiros, a dois meses das eleições, não têm em quem
votar para presidente, por rejeição ou desinteresse. No mundo, somente 37 países
têm mais habitantes – não eleitores – que nosso exército de órfãos da política.
Esse
enorme contingente é valioso para todos os candidatos, porque quem já decidiu
dificilmente mudará o voto, a não ser que a campanha revele algo catastrófico. Até
agora, a disputa anda tão fria nas ruas que lembra a Copa do Mundo. Provavelmente
continuará assim, incendiando apenas as redes sociais, que têm estado intragáveis
com a invasão dos militantes.
Campos,
na ansiedade de subir para dois dígitos e conquistar os indecisos, afiou um
discurso de terceira via, pela educação em tempo integral em todas as classes
sociais, e afirmou: “Os únicos que não governarão com Renan, Sarney e Collor
somos nós, Marina e eu”.
A
nova classe média, cortejada pelo PT, anda ressabiada. Segundo uma pesquisa do
Data Popular, 32% da classe C acha desesperadora a situação. Para 69%, está difícil
pagar as contas de manutenção da casa e de comida. Com malabarismos, a classe C
tenta fazer o gasto caber no orçamento. Um exercício que o governo ignora. Os
gastos públicos aumentam sem parar. O Planalto sabe que o povão não lê nada
sobre economia, e muitos nem recebem conta de luz.
Se
você não quiser ou não puder apagar a luz e se mudar do Brasil, pense bem antes
de votar nulo ou branco. Informe-se e decida. É aqui, neste país onde crescem
os filhos e os netos, que as mudanças precisam acontecer. Todos os candidatos
sabem disso. Tanto que os três prometem mudar.
Não
dá para conviver com esse noticiário escabroso de roubalheira oficial, escolas
depredadas e sem professores, hospitais sem higiene, sem leitos, sem
equipamento e sem médicos, barracos sem sistema de esgoto, mares e lagos poluídos,
assaltantes e PMs que matam e estupram.
É nocivo
para a saúde ver como o Brasil maltrata os honestos e enriquece larápios. Vote
em Dilma. Vote em Aécio. Vote em Campos. Mas vote mesmo, na hora da verdade
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