quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008



07 de fevereiro de 2008
N° 15503 - Luis Fernando Verissimo


Da bolsa


Por dentro, mulher não é muito diferente de homem. Fora nas partes óbvias, em que somos convexos e elas são côncavas, e em um ou outro detalhe, somos iguais. Anatomicamente, portanto, a mulher não tem mistério para o homem.

Ali fica o coração, ali o fígado, ali (onde mesmo?) o pâncreas... Igualzinho a nós. Não é verdade que elas têm glândulas secretas que a medicina ainda não se animou a examinar a fundo, como as que determinam o seu comportamento na direção de veículos automotores e no shopping. Temos (mais ou menos) as mesmas glândulas.

Só duas partes da mulher continuam a desafiar a compreensão dos homens: sua mente e sua bolsa. Sabemos muito pouco do conteúdo de ambas e estamos constantemente nos surpreendendo com o que sai lá de dentro. E, quando pedimos explicações, elas despistam.

O cérebro feminino não é biologicamente diferente, que eu saiba, do cérebro masculino e uma bolsa de mulher não deveria ser diferente de qualquer outro meio de guardar e transportar coisas, mas as surpresas se repetem.

Tanto a mente quanto a bolsa femininas parecem ter acessos a mundos, mananciais, veios, supridores inacessíveis ao pensamento ou a mão do homem. De onde é que elas tiram aquilo tudo?!

É uma pergunta que nos atormenta desde aquele momento em que a Eva não só teve a idéia de comer a fruta proibida como produziu - de onde, meu Deus? - o canivete para descascá-lo e uma toalha para estender na grama, e nunca mais fomos os mesmos.

Li que um japonês inventou um aparelho que, adaptado à coleira, traduz o latido do cachorro. O cachorro late ou rosna e aparece numa telinha o que ele está tentando dizer para o seu dono.

"Quero comida", "Preciso fazer pipi", "Troca de canal", "Gostei do seu cabelo assim", etc. O mercado para a invenção é enorme, só a julgar pelos donos de cachorro que conheço.

Finalmente eles vão poder não apenas falar mas dialogar com seus cachorros, trocar idéias, saber o que eles pensam da vida e dos homens.

Há o risco, claro, da contestação inesperada. Do dono dizer "Senta" e o cachorro responder "Contextualiza". Mas o interpretador de cachorros chega para preencher uma profunda necessidade humana. Gênio.

De acordo com a lógica que diz que com a invenção do fogo, inventaram o piromaníaco, cada nova técnica inaugura uma nova forma de loucura.

Como a da jovem executiva, dinâmica, sem tempo a perder, chamada Jussara, que no outro dia teve o seguinte diálogo pelo seu telefone celular:

- Alô.

- Alô?

- Quem é?

- Eu.

- "Eu" quem?

- Eu quero falar com a Jussara.

- É a Jussara que está falando!

Ela jura que estava falando com ela mesma!

E novas técnicas criam novas superstições. Muita gente acredita que as câmeras fotográficas digitais não apenas capturam a alma do fotografado como a transformam em micro-impulsos que sobem e formam um cinturão eletrônico em volta da terra, misturado com o ozônio. Velhas crenças, como o perigo mortal de comer melancia com leite antes de pular na piscina, ganham vida nova.

Por exemplo, misturar tequila "Subcomandante Marcos", pimenta e Prozac antes de pular na piscina. Mulheres com silicone devem passar pelos detetores de metais dos aeroportos de costas, senão os seios podem explodir.

E o botox derrete. Guardar o Viagra numa cesta com ovos frescos por uma noite e fazer o sinal da cruz antes de ingeri-lo aumentam sua eficácia. Etcetera, etcetera.

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