segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008



18 de fevereiro de 2008
N° 15514 - Paulo Sant'ana


É bom voltar

Estou voltando das minhas férias em ZH, cujo período foi ocupado neste espaço por colunas minhas do passado.

Pela primeira vez em mais de 12 anos, tirei férias da RBS e também de Zero Hora, nos anos outros todos eu não trabalhava em rádio e televisão mas escrevia sempre minha coluna, fosse de Jurerê, de Punta del Este, de Alegrete ou de Gravataí.

Desta vez, não. Por conselho de amigos, me livrei de todos os compromissos, inclusive da coluna, e saí pra vagabundear, em busca de paz, para tentar recobrar a saúde que tanto esbanjei nos tempos de rapaz.

Já tive interinos excelentes na minha coluna, principalmente quando me recolhia aos hospitais para tratar de enfermidades.

Mas confesso que nunca tive interino igual a esse dos últimos dias: foi genial. Às vezes, cheguei a pensar que ele era melhor que eu, fantástico em algumas tiradas, estupendo em sacadas magníficas, mestre em retórica, exímio esquadrinhador da alma humana.

Amei esse último interino. E meu desafio a partir de hoje é tentar superá-lo. Se eu conseguir, será minha façanha mais invejável.

Andei por lugares longínquos nas minhas férias. Em toda parte, fui alvo de curiosidade dos meus leitores.

Nós, as celebridades - esses dias estava conversando isso com o simpático Faustão da Rede Globo - , temos sido ultimamente fustigados de forma amável por nossos fãs.

Ocorre que um fenômeno tecnológico e massivo mudou por completo as nossas vidas: os novos telefones celulares. Eles contêm máquinas fotográficas e filmadoras e por onde vamos somos instados pelas pessoas a posar junto com elas para a posteridade: não há ninguém que queira deixar escapar a oportunidade de ser fotografado ao nosso lado.

Quando é um casal ou uma família, tudo bem. Mas eu tenho topado em minhas andanças com excursões. E seus membros todos querem tirar fotos ao meu lado. Às vezes, demora mais de 40 minutos. É bom, rega a auto-estima, mas cansa pra burro.

Com muita freqüência, a máquina fotográfica do fã encrenca por mal-entendido ou equívoco qualquer. E tenta bater uma foto, não sai. Tenta outra vez.

O fã vai ficando nervoso, eu tento transparecer paciência, não sai a foto em seis tentativas. O cara ou a moça quase choram por seu azar.

Às vezes, finalmente nos aliviamos todos, sai a foto e seguimos nossos destinos satisfeitos por termos nos desincumbido da missão.

Mas até ônibus já perdi por causa de fotos que não queriam sair.

É a vida. E é o ônus. O ônus ou ônibus? Mas no dia que não houver mais leitores que queiram tirar fotos comigo morrerei de tédio da inutilidade.

Vou parafrasear um autor nativista gaúcho que se apresentou com o violonista Mário Barros num festival de música regionalista.

Eu vou transportar para o futebol um verso de autoria dele que falava sobre sua tristeza: não há perigo de o Guaíba secar enquanto houver lágrimas dos gremistas para chorar os times ruins do Grêmio nos últimos anos.

Que times ruins!

Se você comprovadamente tem um olho grande, por que não enxerga Jesus?

Como não enxergar em Jerusalém aquela figura de Jesus que foi descrita por aquele romano numa das colunas antigas minhas que foi republicada aqui recentemente?

O olhar de Jesus enquanto ele caminhava pelas ruas da grande cidade palestina ou pelas vielas de Nazaré, ora tinha a doçura e a serenidade que só se desprendem do coração materno, ora a severidade de quem não admite retrocesso no processo da crença e da fé.

Mas sempre o brilho que continha o olhar de Jesus era de um fulgor irradiante, capaz de cegar, angustiar, alegrar e agitar os que se aproximavam dele ou o seguiam.

Tomara que no fim da minha vida eu me converta mais profundamente do que já estou perifericamente convertido a Jesus.

Que brilho extasiante e hipnótico havia no olhar de Jesus!

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