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domingo, 17 de fevereiro de 2008
ELIANE CANTANHÊDE
O império contra-ataca
BRASÍLIA - É evidente que os EUA têm mais o que fazer do que prestar atenção ao Brasil. Como, por exemplo, cuidar da eleição presidencial, da ameaça de recessão, da queda do dólar e da enrascada do Iraque, um beco sem saída.
Mas é difícil simplesmente ignorar o Brasil, o emergente da região e bem ao lado da Venezuela de Hugo Chávez. Especialmente quando Brasil e França anunciam uma "aliança estratégica", com a expectativa de quatro encontros Lula-Sarkozy num só ano. Não é trivial.
O alerta piscou em setores dos EUA, que são o maior produtor de equipamentos de defesa e estão vendo seus velhos compradores da América do Sul partindo rumo a outros fornecedores.
Chávez aparelhou a Venezuela com o que há de melhor em aviões, rifles e tanques russos. Lula autorizou negociações para parcerias e compras de submarinos, aviões e helicópteros franceses. De quebra, o satélite.
O Brasil tem um programa de satélite de monitoramento aéreo e territorial que envolve somas bilionárias, seja em dólar, seja em euro. No passado, a França forneceu os Cindacta 1, 2 e 3, e os EUA, o Cindacta 4 e o Sivam (o sistema de vigilância da Amazônia). Ambos querem, é claro, pular no novo projeto.
A questão, além de meramente comercial ou militar, é estratégica. Para os EUA, exportar seus aviões para o Brasil é mais do que ganhar uns trocados, é reforçar a aliança com líder do seu "quintal".
Só que não há aliança se um país insiste em manter o controle, e o outro quer independência e tecnologia.
"Os entendimentos com a França aceleraram muito. Eles [os EUA] estão correndo atrás", diz Nélson Jobim (Defesa).
Em março, Condoleezza Rice volta ao Brasil para almoçar com Lula, e Jobim vai a Washington, a convite do governo dos EUA, para discutir defesa, armamento, transferência de tecnologia -e respeito mútuo. Que é bom, e todo mundo gosta.
elianec@uol.com.br
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