terça-feira, 12 de fevereiro de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

O tudo dá em nada

BRASÍLIA - Quem levantou a bandeira da CPI da Tapioca foi a oposição - DEM à frente, como é usual-, a partir das revelações de desvios com os cartões corporativos do governo federal que, por verdadeiras, derrubaram a ministra Matilde Ribeiro.

Mas esse foi o único passo concreto dos oposicionistas, que, desde então, vêm perdendo, um a um, os lances em direção à CPI.
Enquanto DEM e PSDB ficavam na ameaça, o líder governista Romero Jucá sacou rápido e atirou primeiro, apresentando o requerimento de uma comissão só do Senado para investigar igualmente os governos FHC e Lula.

Enquanto DEM e PSDB, desnorteados, discutiam se deveriam assinar ou não, o governo avançou e já transformou a comissão do Senado em mista (senadores e deputados), diluindo o foco.

E, enquanto a oposição rachava em relação ao acordo de uma CPI mista para FHC e Lula, os governistas comemoravam.

O desconforto e o racha têm dois motivos: os gastos vêm desde FHC e existem também no governo Serra em São Paulo, o que embaralha ainda mais a estratégia política de tucanos e democratas em Brasília.

Quem teme CPIs são governos de plantão, não os que acabaram há cinco anos. Mas o Planalto não ficou na defensiva, foi para o ataque.

Ele deveria estar na berlinda, mas puxou os governos FHC e Serra. A oposição pode berrar à vontade que antes só havia "gastos do tipo B" e os cartões só começaram em 2001; ou que os cartões de Serra são diferentes dos de Lula, porque dirigidos para gastos bem específicos da administração. Do ponto de vista político, o efeito é quase nulo.

Tecnicamente, CPIs são para apurar "fatos determinados". Politicamente, quando a onda vem, a rede pesca tudo. Quanto maior e mais disseminado for esse "tudo", maiores as chances de dar em nada. Melhor para Lula, melhor para eles todos, governo e oposição.

elianec@uol.com.br

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