sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008



15 de fevereiro de 2008
N° 15511 - Paulo Sant'ana


Geminianos

Moisés Mendes, colega aqui da Redação que tem como eu a mania de juntar palavras e construir frases, é geminiano. Fez aniversário na semana passada e entoou-se um cântico amigo de parabéns por toda a Redação.

Nós, geminianos, juninos, somos seres especiais. Gêmeos é o signo da inteligência e da dupla personalidade.

Por isso é que existem dentro de mim um demônio que ruge e um deus que chora: Paulo e Pablo. Paulo é cerebrino. Pablo é coronariano. Paulo é direto e exato. Pablo é subjetivo e maleável. Paulo é sério, circunspecto. Pablo é sorridente, cordial.

Paulo é fiel, porque não ama. Pablo trai, exatamente porque ninguém é mais capaz do que ele de amar tão loucamente.

Paulo é intrépido, Pablo é tímido. Paulo é taxativo. Pablo é tergiversante. Paulo é neuronial. Pablo é sangüíneo.

Paulo casou. Pablo se amanceba. Porque Paulo é definitivo. E Pablo é sazonal.

O que vem de Paulo é invariavelmente esperado. Pablo é sempre desconcertante. Paulo teve filhos. Pablo só foi capaz de ter sobrinhos.

Paulo paga as contas em dia. Pablo é o maior de todos os inadimplentes. Paulo teve esposas. Pablo passou a vida colecionando namoradas (hoje é o dia delas, parabéns queridas!). Paulo é rigoroso com sua escrita. Pablo só cuida de fazer versos.

Paulo é otimista, porque sabe onde pisa. Pablo é pessimista, exatamente porque conhece a si próprio. Paulo nutre inveja. Pablo só sente ciúme. Paulo acredita só no que faz. Pablo prosseguirá sempre só acreditando nos outros. Paulo pratica as ciências exatas.

Pablo, as sociais e os devaneios filosóficos. Paulo é escritor. Pablo é orador. Paulo elabora relatórios. Pablo rabisca sonetos. Paulo trata as mulheres com respeito.

Pablo com ternura. Paulo trata os homens com distância e gravidade. Pablo celebra com os homens alegre camaradagem. Paulo confia desconfiando. Pablo se entrega totalmente. E Paulo é inalterável, enquanto não há ninguém mais volúvel do que Pablo.

Esta é a sina dos geminianos. Ser dois em um. Ser na vida ângulo obtuso e ângulo reto. Ser noite e dia. Ser luz de sol e clarão de lua.

Mas também ser raio sobre sombras e relâmpago que fere as trevas. Ser geminiano é ser capaz de desferir bofetadas e brandir beijos. É tornar a sua vida repleta de encontros e despedidas. Assim como de cegueiras e descobertas.

Sou geminiano, então sou capaz de sofrer os maiores e mais atrozes infortúnios. Mas também sou candidato natural e favorito às mais especiais e supremas venturas. Ser geminiano é viver equilibrando-se (ou desequilibrando-se) nos extremos.

Sou geminiano, ninguém como eu corteja diuturnamente a morte. Mas também ninguém como eu saboreia mais e valoriza tanto e tão devotadamente a vida.

Crônica publicada em 12/06/2001

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