quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008


CLÓVIS ROSSI

A poesia e a cidade

SÃO PAULO - O empresário Oded Grajew é um poeta, um sonhador. Quando Lula se elegeu presidente, Oded acreditou que era a hora de fazer seus sonhos -centrados em uma sociedade mais humana, mais justa- virarem realidade.

Foi designado assessor especial da Presidência. Renunciou pouco depois, convencido de que "o pessoal lá em Brasília só pensa no poder", como me disse à época.

Não desistiu, no entanto. Acaba de conseguir emplacar, graças ao Movimento Nossa São Paulo, a chamada Lei de Metas, aprovada terça-feira pela Câmara Municipal paulistana. Pela lei, o prefeito tem que apresentar, até 90 dias após a posse, metas quantitativas por áreas e subprefeituras.

"É uma revolução política", festejou Grajew. Devagar, devagar, meu caro poeta. O Brasil é um caso exemplar de como as melhores idéias e propostas podem ser postas a perder.

Mas o caso da Lei de Metas merece de fato festejos. Tira a avaliação da gestão pública do impressionismo para colocá-la em torno de parâmetros e prazos objetivos, numéricos. Ou, como disse o ex-jogador Raí à Folha, "agora, [a população] vai ter o que cobrar de cada ponto".

Melhor ainda: o Movimento Nossa São Paulo propõe-se a "incentivar a incorporação de novas lideranças, empresas e organizações sociais" e a "constituir fóruns nas regiões de todas as subprefeituras de São Paulo".

Posto de outra forma: ou a sociedade se organiza para propor, cobrar, vigiar, exigir, ou a cidade se tornará cada vez mais inóspita.

Melhor ainda dois: trata-se de um movimento que foge completamente ao indigente Fla-Flu e PT-PSDB, na medida em que incorpora desde a Fiesp até o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis.

Por mais que eu continue um cético profissional, espero que a poesia se materialize.

crossi@uol.com.br

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