terça-feira, 12 de fevereiro de 2008



12 de fevereiro de 2008
N° 15508 - Paulo Sant'ana


Trânsito agressivo

Está impossível dirigir neste trânsito maluco. Grande número dos motoristas mostra no tráfego a síndrome dos motoboys, querem passar na frente de todo mundo por qualquer espaço que encontrem. Tanto nas estradas quanto aqui na cidade há uma pressa, uma ânsia de chegar antes, uma obsessão em superar o motorista que está na frente ou ao lado que chega às raias da irresponsabilidade.

Eu tenho a impressão de que esse modo de dirigir atropelando os espaços dos outros não pertence à formação desses motoristas infratores, é do caráter deles mesmo. São pessoas que se acham donas do mundo quando lhes é proporcionado um volante.

Sentem-se plenipotenciárias, proprietárias de todas as vias, não lhes perturba a coação que exercem sobre os outros motoristas no trânsito, querem é superá-los, deixá-los para trás.

Agem como se estivessem dirigindo sozinhos nas ruas, os outros motoristas são estorvos, ou saem da frente, ou serão "cortados" abruptamente, forçados a desviar do curso desses intrusos, sob pena de serem alvos de acidentes.

Há uma perigosa cultura de supremacia entre esses motoristas aos quais não importa chegar, têm que chegar na frente dos outros. Os outros, os que vão na frente, são considerados obstáculos detestáveis, só perdem essa condição se abrirem o caminho para os apressadinhos ou de forma violenta forem obrigados a se afastar do caminho deles.

É muito difícil remover essa mentalidade de tropelia no trânsito, só uma intensa e longeva campanha em massa de conscientização pode mudar essa tendência de alto perigo que cerca o nosso trânsito.

Além do perigo, o desconforto: os motoristas de bom senso, os que esperam a sua vez, os que só ultrapassam com absoluta segurança e sem agredir o espaço alheio, os que têm paciência com os que vão à frente, esses estão vivendo um exercício de medo e de tensão, a todo instante sob ameaça dos trêfegos agressores.

A agressividade no trânsito parte sempre dos mesmos motoristas, aquele que o "fecha" subitamente, pode olhá-lo, mais adiante faz o mesmo contra outros, irrita-o aquele corso numeroso de carros na avenida e ele se obstina em ultrapassar a todos, indistintamente a todos. Parece que seu ego cresce se ele superar toda aquela procissão de carros.

E essa "costura" que os motoboys fazem no trânsito, ultrapassando tanto pela direita quanto pela esquerda, por onde bem entendem, sem serem avistados sequer pelos retrovisores dos carros ultrapassados, o que causa apreensão e susto, está começando a ser imitada pelos carros de menor tamanho.

Quanto menores, mais atrevidos, prevalecendo-se de que podem passar por espaços em que os outros não cabem. Então vão furando a fila e se embarafustando por qualquer brecha, independentemente da invasão do espaço alheio.

Nunca foi tão difícil dirigir em nosso trânsito como atualmente. Noto que os motoristas sensatos estão adotando um método defensivo, mais preocupados com o dano que possam lhes causar os motoristas arbitrários do que com a visão espacial do trajeto.

É preciso que as autoridades de trânsito e a imprensa se dediquem imediatamente a uma grande campanha de informação aos motoristas, inculcando-lhes que não há forma mais acessível de exercer os princípios cristãos, civilizatórios e democráticos do que respeitar o próximo no trânsito.

(Crônica publicada em 11/02/2004)

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