terça-feira, 19 de fevereiro de 2008


CARLOS HEITOR CONY

CPI natimorta

RIO DE JANEIRO - O que se pode esperar de uma comissão que vai apurar mais de 11 mil casos de uso indevido dos cartões corporativos? A mídia deitará e rolará em cima do novo escândalo.

Está treinada em investigar as irregularidades do poder, cumpre o seu papel com entusiasmo, acreditando que colabora para a formação de um Estado ideal e de uma sociedade perfeita.

É evidente que os gastos corporativos revelam uma frouxidão moral e um abuso funcional de tantas autoridades em diversos escalões.

Tivemos CPIs bem mais importantes, como a do mensalão, que só chegará a resultados em 2009 ou 2011, quando alguns dos crimes estarão prescritos. Isso sem falar na CPI que não houve para apurar a compra dos votos que deram o segundo mandato a FHC.

Como já acentuei em crônica anterior, se houver mesmo uma CPI para os cartões corporativos, ela será uma natimorta. Dependerá de documentos, pareceres e processos do próprio governo.

De nada adiantará o recibo do botequim que vendeu uma empada de camarão ao segurança de um ministro e foi paga com o cartão corporativo.

Para explicar a compra da empada, o ministério em causa citará um cipoal de decretos e portarias que dão condição legal ao mata-fome de seu servidor.

Um cronista de outros tempos diria que esse exemplo é "mofino". Afinal, as despesas com os cartões não ficaram em botequins.

Somam alguns milhares de reais, nem todas tiveram a nobre função de matar a fome de um segurança da nação.

Seis anos atrás, parei num posto de gasolina na estrada que vai de Paris a Lyon.

Uma Mercedes suntuosa também se abastecia, estava a serviço da mulher de um ministro do nosso governo. Sabendo que eu era brasileiro, ela se ofereceu para pagar a minha despesa com o seu cartão corporativo.

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