quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008



13 de fevereiro de 2008
N° 15509 - Sergio Faraco


Pequenas ambições


Tenho muitas despesas, que devoram a receita, e outras tantas ambições, todas elas razoáveis, mas, ai de mim, caríssimas.

Diariamente, vou de Ipanema à Tristeza. Para poupar combustível, engato a quinta marcha e não troco. Na lomba da Vila Conceição, minha caranguejola tosse, engasga-se, treme, quase pára e logo começo a ouvir os insultos de quem me ultrapassa, aqueles extremosos filhos que vão tirar o pai da forca. É o modo que encontrei de só gastar vinte mil-réis por semana.

Em casa, igualmente em nome da economia, corto eu mesmo a grama, limpo os canteiros, planto o que precisa ser plantado, varro o pátio, pinto o que precisa ser pintado, conserto o que se desconserta, desentupo as graxeiras, recolho o cocô do cachorro e por aí vai.

Por que me queixo?

Porque cansei. O cansaço é tanto que, à noite, quando finalmente me sento à mesa para escrever, encosto a cabeça nela e durmo. Chega de economia! Chega de pagar com moedas e depositar o troco no porquinho! Minha ambição é contratar uma empresa que faça tudo o que eu faço, inclusive a literatura.

Terceirizar o serviço. Eles a trabalhar e eu só pagando, não com as merrecas do porco, mas sacando na boca do caixa.

Essa ambição não é guaxa, tem família.

Ao cruzar pelas revendas de automóveis, admiro os carrões atrás do vidro e me pergunto quando, afinal, terei o meu, como qualquer burguês. E no jornal, se leio a coluna social e vejo aquela nobreza toda em Punta del Este, também me pergunto quando conhecerei aquele paraíso oriental, eu, que só conheço o Lami.

Mais: quero uma sauna no puxado atrás da casa e uma sala de ginástica que me deprima o barrigão, quero um cabeleireiro de renome para fazer mechas e uma cirurgia para abreviar o nariz, pois quanto mais passa o tempo, mais eu vejo pelo canto do olho seu estrambótico perfil.

Quero um nariz grego!

E quero também uma Mercedes!

E quero sapatos Weston, de Paris!

E quero charutos H. Upmann!

E quero um terno Armani!

E quero uma capanga Louis Vitton!

E quero cuecas Hugo Boss!

E quero um monte de coisas mais.

Em síntese: quero o meu cartão corporativo do governo federal ou o de débito do governo paulista. Ou, por outra: já que é moleza, também quero ser ladrão.

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