quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008



21 de fevereiro de 2008
N° 15517 - Nilson Souza


Copiar e colar

Quando aprendi a datilografar, dois ou três séculos atrás, a professora colocava uma grande folha de papel sobre minhas mãos para evitar que eu enxergasse o teclado.

Era quase uma tortura: sem ver as letras, com mingos frágeis e anulares desconectados dos demais dedos, eu tinha que pressionar com força as teclas da máquina de escrever.

Estas impulsionavam hastes metálicas com letrinhas na ponta, que por sua vez pressionavam uma fita de pano molhada de tinta contra o papel preso no rolo do carro móvel, que a gente movimentava com uma alavanca para mudar de linha.

Aquele processo arcaico, ainda hoje utilizado por escribas mais conservadores e em repartições públicas esquecidas no tempo, servia para produzir textos como este que agora digito no computador, sem a necessidade de inutilizar folhas de papel ou apelar para o errorex - que também surgiu muito tempo depois. O computador é uma maravilha.

Só que está dificultando a vida dos estudantes. Pesquisa divulgada esta semana por uma respeitada universidade de São Paulo mostra que os alunos que ficam muito tempo na frente do computador têm notas menores do que aqueles com pouco acesso à máquina.

Motivo: embora permita textos limpos e pesquisas instantâneas, o computador transformou-se também num irresistível instrumento de comunicação interpessoal.

Crianças e adolescentes sentam diante dele para fazer o trabalho escolar, mas logo estão trocando mensagens com os amigos, consultando sites curiosos ou praticando jogos interativos. Sem contar que o trabalho escolar pode ser concluído em alguns segundos, com uma simples operação: control-C, control-V - copiar e colar.

O computador é realmente uma maravilha.

O problema é o seu uso. Se os pais conseguissem fazer como a minha professora de datilografia, encobrindo o que não deve ser visto (ao menos naquele horário sagrado do tema escolar), aposto como as crianças aprenderiam mais.

Não se trata de privar os jovens dos benefícios da tecnologia, mas, sim, de orientá-los com alguma firmeza para o aprendizado.

Em vez de colar um texto da internet, ler o capítulo de um livro e resumi-lo. Leva tempo, pode ser chato, mas alguma coisa fica. Em vez de interromper o trabalho para consultar o Orkut ou dialogar pelo MSN, alguns minutos de isolamento e concentração.

Tortura? Talvez seja mais ou menos como obrigar um adolescente a escrever sem ver o teclado. Foi assim que aprendi a datilografar (e a digitar) com os 10 dedos, rapidamente e sem cometer muitos erros.

Claro que a qualidade do texto é outro capítulo - e esse ainda estou aprendendo. Esforçadamente, sem copiar nem colar.

Weel, após o Eclipse lunar desta madrugada que tenhamos todos, uma excelente quinta-feira, ainda que com sono.

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