Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
14 de fevereiro de 2008
N° 15510 - Luis Fernando Verissimo
Tim-tim
Não se vêem mais patacas e dobrões, a não ser em filme de pirata. Moedas de encher algibeiras e baús e pesar no bolso. Moedas sonantes e ressonantes.
Uma vez fui investigar a origem da expressão "tim-tim por tim-tim" e não encontrei nenhuma raiz grega ou tupi-guarani. "Tim" era apenas a reprodução onomatopéica do barulho que fazia uma moeda batendo na outra.
O som de metal contra metal. Pagar alguém era colocar moedas na sua mão, e o ruído de um metal sobre o outro - tim, tim, tim, tim - era o registro de uma transação bem saldada, de algo trocado pelo seu valor em ouro ou prata, com todos os tins devidos. As moedas não representavam outra coisa, as moedas eram o dinheiro, soavam como dinheiro.
Depois veio o papel-moeda, que tecnicamente não é dinheiro, é uma vaga promessa de algum dia se transformar em ouro ou prata, e começamos nosso afastamento do tim-tim. Culminando com as vastas somas virtuais que hoje cruzam os céus de computador para computador, em silêncio.
Ganhamos o dinheiro asséptico, intocado por mãos humanas, mas perdemos a onomatopéia.
Cartões de crédito, por exemplo. Nada numa transação com cartão de crédito evoca um sonoro pagamento com patacões. O cartão de crédito substitui o papel-moeda, que por sua vez é uma representação da moeda mesmo, e assim é quase a sombra de uma sombra. E sombras não fazem barulho.
Ouve-se apenas o "suish" do cartão sendo passado na maquininha. Não surpreende que, na falta do tim-tim, as pessoas se esqueçam de que o cartão de crédito também não é dinheiro, é uma promessa de pagamento futuro, uma presunção de que haverá ouro para cobri-lo.
E se o pressuposto pagador não é nem quem usou o cartão, é a firma, o governo, o tesouro nacional ou qualquer outra entidade tão remota que parece etérea, compreendem-se os abusos. Faltou autocontrole diante da tentação, faltaram supervisão e regras claras, faltou inteligência. Mas, acima de tudo, faltou o tim-tim.
Há alguns dias, conheci a minha neta. Antigamente só se tinha este prazer depois da criança nascer. Não se sabia nem de que sexo seria. Hoje, com a ecografia, fica-se sabendo tudo.
Já vi o seu rosto, o movimento da sua boca - e juro que ela botou a língua! Talvez contrariada com aquela invasão da sua privacidade pré-natal. E mais não conto em respeito a meus ex-companheiros do Movimento dos Sem Neto. Não quero humilhar o Scliar.
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