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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
UMA NOVIDADE COM OBAMA: SAMANTHA POWER
Há uma novidade na política externa americana. Chama-se Samantha Power, tem 37 anos e uma esplêndida carreira. Formou-se no circuito Yale-Harvard e, aos 32 anos, ganhou o Prêmio Pulitzer com o livro 'Genocídio – A Retórica Americana em Questão' (publicado também no Brasil).
Foi uma jovem correspondente de guerra das revistas Economist e New Republic na Iugoslávia, no Sudão, em Ruanda e no Timor.
Em 1999, ela fundou o Centro Carr de Direitos Humanos da Escola Kennedy de Administração Pública, em Harvard. Desde o ano passado, Samantha Power é uma das principais assessoras de Barack Obama para assuntos de política internacional.
Alta e ruiva, veste terninhos básicos nas palestras e seda para a revista Vogue. Ela acaba de publicar uma biografia do brasileiro Sérgio Vieira de Mello, o alto comissário das Nações Unidas assassinado em Bagdá, em 2006. ('Chasing the Flame', talvez 'Perseguindo a Chama', sairá por aqui em agosto.)
Quem leu, gostou do livro e, como sempre, gostou do personagem, 'uma mistura de Robert Kennedy com James Bond', na definição de um repórter. A professora conheceu Vieira de Mello na Bósnia.
Os candidatos e os presidentes dos Estados Unidos têm uma queda por xamãs de grandes universidades. À diferença de seus antecessores, Samantha Power sujou os pés na lama das trincheiras e chegou à equipe do candidato com um Pulitzer na bolsa.
A importância do seu livro esteve na demonstração de que o descaso fatalista com que a política externa americana tratou os genocídios das últimas décadas repetiu os desastres ocorridos durante o Holocausto, a matança dos armênios e o extermínio comunista no Camboja.
Oitocentas mil pessoas foram massacradas em Ruanda e 200 mil na Bósnia. Saddam Hussein liquidou 100 mil curdos. Doenças e massacres mataram 200 mil pessoas no Sudão. Power vê o mundo com a cabeça de quem se educou depois da Guerra Fria.
Chega aos genocídios pela crítica à tolerância diante das violações dos direitos humanos. Ela condena a desastrosa ocupação americana do Iraque, mas acredita num neo-intervencionismo de tintas civilizadoras que ainda não passou pelo teste da sinceridade. Power percebeu essa chama no trabalho e nas agruras de Sérgio Vieira de Mello.
Algumas idéias da professora ecoam a agenda de Jimmy Carter nos anos 70, à qual muito deveu a redemocratização brasileira.
Naquela época, o estandarte dos direitos humanos era um subproduto da estratégia de encurralamento da União Soviética. Hoje, mesmo involuntariamente, encurralaria a China e é aí que mora o perigo.
Tudo o que Pequim não quer ouvir, sobretudo pelo apoio que dá à ditadura de Burma, é o que a professora escreve: 'Aquilo que é verdadeiro na economia, também é verdadeiro em relação aos direitos humanos: não existe uma coisa que possa ser chamada de puro ‘assunto interno’'.
Não se pode saber se Obama derrotará Hillary Clinton, muito menos se Samantha Power terá influência num eventual governo democrata.
Ela desestimula as tentativas de apresentá-la como dona do urso, mas a menção às palavras 'genocídio' e 'tortura' no discurso de Obama, depois da Superterça, indica que as idéias da professora pularam das páginas das reportagens e das palestras de Harvard para a agenda de mudanças propostas pelo candidato.
AGÊNCIA O GLOBO
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