sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008



Jaime Cimenti
15/2/2008


FHC, Lula, 11 de Setembro etc

O jornalista e escritor Daniel Piza nasceu em 1970 e, apesar de jovem, já inscreveu seu nome no jornalismo cultural brasileiro destas últimas duas décadas.

Ele traduziu oito livros de autores como Herman Melville e Henry James, organizou seis, na área de jornalismo cultural e literatura, e publicou treze livros, entre eles Questão de gosto, Jornalismo Cultural Paulo Francis e a biografia Machado de Assis - Um gênio brasileiro.

Em Contemporâneo de Mim, lançado há poucos meses, Daniel Piza apresenta uma grande coletânea de textos de abertura escritos e publicados na coluna Sinopse, anteriormente na Gazeta Mercantil (1996-2000) e, a partir de 2000, no jornal O Estado de S. Paulo.

Piza trata de FHC, Lula, 11 de Setembro, livros, filmes, canções e acontecimentos que marcaram a história mundial dos últimos anos.

A desilusão com a esquerda no poder, a "maturidade democrática" brasileira e os problemas com a educação e o debate seriamente empobrecidos, as viagens para a Rússia, a Índia e o Japão, novas visões sobre o cinema e a literatura brasileiros estão, igualmente, entre os muitos temas que o autor analisou, semanalmente, com criatividade, ousadia e humor.

Piza transita entre vários gêneros: crônicas, diálogos, miniensaios, listas, paródias, cartas, manifestos irônicos e artigos polêmicos fazem parte do arsenal do jornalista, para tentar, de qualquer forma, despertar os apáticos leitores de nosso tempo, soterrados por montanhas de informações.

O volume está dividido em quatro grandes partes, intituladas: Brasil, Mundo, Cultura e Comportamento. Realmente, o olhar e a sensibilidade de Piza tratam de Getúlio, FHC, Lula, JK, Marx, Freud, mistérios de Manhattan, Japão, Bingobrás, corrupção, Guimarães Rosa e muito mais.

Ele procura fazer novo e bom jornalismo, misturando política e cultura e, principalmente, buscando perspectivas e visões diversas daquelas que dominam os jornais e entediam milhões de leitores. Não é pouco.

Os leitores de Piza, não por acaso, não conseguem ficar indiferentes diante da variedade de temas abordados e da força de seus textos, como, por exemplo, Carta a Marx, de 14.11.1997, que está na página 156 do livro ou Germania, de 25.06.2006, no qual fala de futebol, copa do mundo, Alemanha e alemães. À página 28, falando de esquerda e direita,

Piza escreveu que nossa esquerda e nossa direita não são como as outras e que têm muito mais em comum do que pensam.

Enfim, ele está aí, inquieto e inquietante, para nos provocar, nos ajudar a enterrar visões mortas e maniqueísmos carcomidos e nos inspirar para sentir o mundo e as pessoas de modo diferente.

Piza acha que a arte e as idéias, não importando a origem, devem contestar, formar consciências e abrir as portas para o novo, que é mais raro do que se pensa. Declara-se portador de um ceticismo operante e pede que os leitores revisem seus textos.

Ele sabe como é difícil para todos nós decifrar as mazelas de nosso tempo, mas mesmo assim nos convida para a reflexão e, nós, claro, aceitamos de bom grado. 474 páginas, Bertrand Brasil, telefone 21-2585-2070.

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