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sábado, 16 de fevereiro de 2008
17 de fevereiro de 2008
N° 15513 - Moacyr Scliar
Os sonhos do Kleiton Ramil
Podemos, claro, anotar os sonhos; mas a inevitável pergunta é: até que ponto nossas anotações expressarão aquilo que aconteceu em nossa mente?
Como todos os membros da família Ramil, o Kleiton, graças ao fantástico genoma, tem múltiplos talentos. Para começar, é um notável compositor, e sua canções, interpretadas pelo duo que forma com o irmão Kledir, têm um sucesso extraordinário, como mostra a famosa Vira Virou, incluída, junto com músicas de Sting e Joan Baez, num disco comemorativo da Anistia Internacional.
Kleiton tem mestrado em composição, é professor de música e - surpresa - formou-se em Engenharia Eletrônica.
Agora, e de novo a exemplo do Kledir, colaborador da Zero Hora, Kleiton entra no terreno da palavra escrita e nos dá um livro tão surpreendente quanto interessante: Sonhos e Sonhadores.
Já no início da obra Kleiton fala-nos de seu fascínio em relação aos sonhos: "Tenho me dedicado, quase que a vida inteira, a anotar, a estudar e a procurar entender esse mundo tão rico de imagens, situações e histórias fantásticas".
Segue-se uma história da interpretação dos sonhos, que começa no Egito antigo, passa pela Bíblia (e ali estão José e Daniel, interpretando os sonhos do faraó e do rei Nabucodonosor, respectivamente) e chega aos expoentes modernos do assunto, Freud e Jung, detendo-se particularmente no conceito junguiano do inconsciente coletivo, uma "percepção de que toda a humanidade pode estar ligada através de material arqueológico do inconsciente".
Esta parte do livro representa, portanto, uma introdução ao tema, redigida em linguagem fácil e acessível, e que até inclui alguns conselhos sobre como lidar com o sono e com os sonhos. Um deles: "Anote".
Bem, aí está uma coisa que muita gente já fez, inclusive e principalmente Freud. Podemos, claro, anotar os sonhos; mas a inevitável pergunta é: até que ponto nossas anotações expressarão aquilo que aconteceu em nossa mente?
Em primeiro lugar, sonhos são, ao menos do ponto de vista da realidade consciente, notavelmente confusos: sonhamos com lugares onde nunca estivemos, com pessoas que nunca vimos.
Depois, os sonhos nos aparecem sob a forma de imagens, porque provavelmente foi o que aconteceu na história da humanidade: primeiro surgiu a imagem, depois a palavra oral e só por último a palavra escrita.
É por isso que se diz que uma imagem vale mil palavras, apesar de que, como pondera Millôr Fernandes, temos de usar palavras para expressar essa verdade. De qualquer modo, e como o sabe todo escritor, transformar visões e sensações em palavras é uma tarefa hercúlea.
Que, contudo, vale a pena: ao escrever, criamos uma outra realidade, que não é a das imagens nem a dos sons, mas que nos ajuda no processo de compreender o mundo e a nós mesmos. Por isso Kleiton anotou os seus sonhos. E lá estão eles, na última parte do livro, com título e tudo.
O último sonho, "Os três seios de Gisele Bündchen", provavelmente é partilhado pelo autor com milhões de brasileiros (e estrangeiros). Ele está numa festa, com a top model, e aguarda o momento em que "ela vai tirar sua blusa e todos poderemos ver seus famosos seios".
Mas a primeira reação do sonhador é decepção: os seios não são tão bonitos quanto ele imaginava. De qualquer forma, abraçam-se: "Estou contente e ela também está feliz.
Foi-se embora aquela primeira expressão de menina braba sempre na defensiva contra lobos maus.". No comentário, o autor reconhece que é apenas um sonho, que só em sonhos alguém ousaria ter direitos exclusivos sobre Gisele Bündchen.
Tudo bem. Mas fica o mistério do título. Onde está o terceiro seio de Gisele Bündchen, que no texto não é mencionado? Em que sonho se esconde? Espero que o próximo livro revele esse segredo...
Depois de muitas andanças, inclusive pelo Exterior, volta Fernanda Zaffari com uma coluna neste Donna. É uma celebração e é a confirmação de que a boa filha à casa torna.
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