sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

Abrindo o apetite

BRASÍLIA - A informação de ontem do jornal "Valor Econômico" sobre a privatização da Infraero causou um corre-corre no governo, que tratou de desmenti-la.

Há dois motivos para tanta correria. Ou dois temores. Um de que o PT lidere um movimento contra a proposta, acuando um governo que cansou de acusar o PSDB na campanha eleitoral de querer privatizar o país inteiro. Outro de que o forte corporativismo da Infraero entre em ação e inviabilize os planos governistas.

Há, além disso, divergências internas quanto ao que fazer com a Infraero, uma daquelas estatais cheia de dinheiro e vazia de fiscalização -um prato feito para desvios de mil e uma naturezas, especialmente em épocas eleitorais.

Ao que se saiba, o ministro Nelson Jobim e o atual presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, defendem a abertura do capital da empresa, mas mantendo o controle estatal. Já a ministra Dilma Rousseff e parte da área econômica veriam com bons olhos um passo adiante, com a privatização efetiva da empresa.

Num ponto, porém, os dois lados concordam: assim como está atualmente, a Infraero não é atrativa nem para uma coisa nem para outra. Ou seja: antes de mais nada é preciso reestruturar a empresa de alto a baixo.

E, aí, já há dúvidas sobre a permanência ou não de Gaudenzi. Seria o homem certo para isso? Há controvérsias no governo.

A Infraero tem em torno de R$ 2 bi de recursos neste ano e praticamente independe de Orçamento da União, porque o grosso da receita vem das taxas aeroportuárias que nosotros pagamos a cada vôo.

Mas lhe falta patrimônio: os 67 aeroportos sob seu controle não são da empresa, são da União.

Deles, aliás, só dez dão lucro. São o "filé". E, quando se fala em abrir capital, privatizar, tornar a empresa apetitosa, a pergunta que mais nos interessa, a nós, usuários, é: e o "osso" (ou os 57), quem vai querer?

elianec@uol.com.br

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