domingo, 24 de fevereiro de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

Quem dá mais?

BRASÍLIA - Ao anunciar a intenção de comprar submarinos e caças e de fazer complexas parcerias com a França, o Brasil aguçou o apetite dos maiores fornecedores de armamento no mundo, a começar dos Estados Unidos e da Alemanha.

Por enquanto, os americanos reagem com diplomacia, convidando o ministro da Defesa para fazer um giro parecido com o que fez pela França e pela Rússia e conhecer o que eles estão desenvolvendo por lá. Mas os alemães estão irritados e, nos bastidores, há até a ameaça de ir às vias de direito.

Em carta a Lula, à qual a Folha teve acesso, o grupo alemão ThyssenKrupp cobrou um compromisso brasileiro: o de que fecharia um pacote de submarinos com ele em troca da construção de uma siderúrgica no Rio. Grosso modo, 1,018 bilhão dos submarinos contra 3,5 bilhões da siderúrgica.

Os alemães fizeram a parte deles e reclamam que o Brasil roeu a corda. Pior: que souberam por jornais que Nelson Jobim dá preferência para os submarinos franceses. Sentiram-se apunhalados pelas costas, até porque o programa nuclear Brasil-Alemanha tem décadas.

O que está jogado ao mar, ao ar e à cobiça dos mercados internacionais é um pacote de submarinos convencionais, tecnologia de submarinos de propulsão nuclear e a renovação da frota de caças da FAB, além de helicópteros, blindados e satélites. Jobim não diz quanto, nem quando, nem com quem, mas passa a sensação de ter aberto uma espécie de leilão. Quem dá mais?

A disputa está na fase de saber quem transfere mais e menos tecnologia. O Brasil diz que os franceses são mais compreensivos; os americanos e os alemães gritam que não. Na verdade, ninguém transfere nada nesse leilão.

Enquanto a gente discute a tapioca e os cartões corporativos, o mundo quer saber de armamento, comércio, dólares. Aliás, a coisa caminha mesmo é para euros.

elianec@uol.com.br

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