sábado, 23 de fevereiro de 2008



24 de fevereiro de 2008
N° 15520 - David Coimbra


A volta da pantalona

Eu tinha uma pantalona cor-de-rosa, uma vez. Sentia o maior orgulho daquela pantalona cor-de-rosa. Porque vivíamos numa época de pantalonas. Lembro de um diálogo de dois caras mais velhos, no portão da frente do colégio. Um deles dizia:

- Tenho uma pantalona que é bem apertada aqui na coxa e, quando chega ao joelho, se abre até ficar desse tamanhão - e mostrava as duas mãos abertas, os dedos em cê, formando uma circunferência do tamanho de um Long Play.

O outro se admirava:

- Ela arrasta no chão? - Arrasta. - Massa!

Minha pantalona não era tão massa, mas fazia certo sucesso nas reuniões dançantes, sobretudo quando a usava com uma camisa amarela que tinha, com golas que desabavam pelos ombros abaixo, a camisa obviamente aberta quase até o umbigo e, no peito, um medalhão à la Rei Roberto. Nos pés, um Bamba branco que usei até rasgar de puído. A maior elegância.

Atualmente, esse figurino causaria espécie, bem sei. Só que tem o seguinte: a pantalona já voltou! Há poucos anos, as mulheres usaram pantalona novamente, lembram? Sabe por quê? Porque tudo volta.

Por isso asseguro: o ponta também voltará. O velho ponta driblador, que ia à linha de fundo e mandava um cruzamento perfeito para dentro da área, o ponta demolidor de defesas.

Pontas como Edu, do Santos, o driblador mais irresistível do futebol brasileiro, ou o pequeno argentino Ortiz, que o Grêmio comprou por muito e que dava um drible em cima de um parquê, ou como o velho Valdomiro, que não driblava, jogava a bola na frente, corria e cruzava na cabeça de Escurinho.

Tenho certeza que o ponta voltará. Será o fim dos alas, essa excrescência tática, e a volta do ponta agudo e decisivo. Será a glória. Como glorioso era usar uma vistosa pantalona cor-de-rosa.

Abaixo a moela!

Eu odeio moela. Sempre que posso, falo mal da moela. Várias vezes escrevi artigos candentes contra a moela. Lembro do meu amigo Ricardo Carle, que adorava moela. Ele ia ao Jazz Café, sentava-se e pedia:

- Moela. Eu: - Blergue!

Ele insistia: - Moela! Aí vinha aquele prato de moela e eu:

- Que nojo!

Não adiantava. O Ricardo comia moela ainda assim, deliciava-se com moela. Eis a verdade: por mais que lance vitupérios contra a moela, jamais consegui fazer com que um único apreciador da moela desistisse de comer moela.

Com o que concluo que esta história de formador de opinião é balela (rima com moela!). As pessoas só concordam com uma opinião quando é a mesma que a delas.

Até porque existe um supermercado de opiniões, hoje em dia. Há opiniões sendo exibidas em rádios, TVs, jornais e internet, opiniões sendo dadas por pesquisas interativas, opiniões bradadas por taxistas, porteiros, médicos, designers. Cada um escolhe a opinião com a qual quiser concordar.

No entanto, em área alguma fervem tantas opiniões como no futebol. Há tantos programas esportivos, tantos comentários, tantas opiniões, que nenhuma é de fato importante.

Portanto, posso afirmar que sou contra o campeonato de pontos corridos, que o Gauchão deveria durar no máximo um mês e que os clubes brasileiros deveriam se insurgir contra a CBF e a Fifa, esses vampiros a serviço dos piratas europeus. Posso dizer isso tudo, não fará diferença. Só concordará comigo quem já tiver essa opinião.

Zagueirão

Esse zagueiro do São Luís, Dirlei. Não joga a segunda partida contra o Inter, levou o terceiro amarelo, mas, no primeiro jogo, impressionou.

Num lance dentro da área do São Luís, nada menos do que três atacantes do Inter o assediavam, arfavam atrás dele, ansiosos pela bola, e Dirlei, serenamente, arrastou a bola para o lado esquerdo, saiu jogando de queixo levantado e sem pressa, e com tranqüilidade, e com autoridade, quase bocejando.

Fez algo parecido em mais três ou quatro lances, e ainda tirou de cabeça, e salvou gol, e limpou a área. Dirlei. Foi um jogo só, mas, ó: aí está um zagueiro.

Nenhum comentário: