PIB mostra economia aquecida e eleva pressão sobre juro
Produto Interno Bruto no terceiro trimestre sobe 0,9%, levemente acima do esperado. Alta é puxada por setor de serviços e indústria no lado da produção e por consumos da família e do governo e investimentos de empresas, no da demanda
O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,9% no terceiro trimestre de 2024 ante o acumulado dos três meses imediatamente anteriores. O resultado veio pouco acima do esperado pelo mercado, que fazia projeções em torno de 0,8%. No acumulado do ano, a alta é de 3,3%, e no período de 12 meses, de 3,1%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No terceiro trimestre, o desempenho da economia brasileira foi puxado por altas nos serviços (0,9%) e na indústria (0,6%). Já a agropecuária caiu 0,9% no período. Do lado da demanda, o consumo das famílias subiu 1,5% e o do governo cresceu 0,8%. Além disso, a formação bruta de capital fixo, ou investimentos de empresas na produção, registrou aumento de 2,1% (leia mais na página 8).
O PIB, que representa a soma dos bens e serviços deo país, somou R$ 3 trilhões em valores correntes no terceiro trimestre de 2024, dos quais R$ 2,6 trilhões em valor adicionado a preços básicos e R$ 414 bilhões em impostos sobre produtos líquidos de subsídios.
Já a taxa de investimento no terceiro trimestre chegou a 17,6% e é a maior para esse período do ano desde 2022, quando alcançou a 18,3%. Porém a taxa de poupança ficou em 14,9%, a menor para o período desde 2019, quando foi de 13,2%.
Comemoração de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o resultado geral. "Continuamos com o PIB crescendo e criando mais emprego e renda na mão dos brasileiros", escreveu nas redes sociais. A alta de 0,9% no terceiro trimestre mostra a economia aquecida e em desaceleração.
Aumento recente dos gastos do governo, que influenciam em consumo maior das famílias, investimentos das empresas na produção e mercado de trabalho em alta são alguns dos fatores que explicam esse cenário, segundo especialistas. Esse ambiente também reforça juro mais elevado ao longo de 2025 para frear a demanda e o risco de repique mais intenso da inflação.
- Você também tem a retomada do crescimento do salário acima da inflação, tem o novo PAC, com a retomada das obras, do investimento público, do financiamento do Minha Casa Minha Vida, que amplia bastante a dinâmica de construção civil e ajuda no investimento. Além disso, tem a queda da taxa de desemprego para o menor patamar observado na série histórica - aponta professor Maurício Weiss, do Programa de Mestrado Profissional de Economia da UFRGS.
Ele destaca que esse aumento de demanda também beneficia a indústria. Sobre o recuo na agropecuária, Weiss diz que esse desempenho é explicado por questões sazonais e típicas desse trimestre e por questões climáticas que pressionaram alguns produtos.
Acima do potencial
Mas, o salto do terceiro trimestre acima do esperado pode sinalizar uma economia crescendo acima do potencial na avaliação de Marcelo Kfoury, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP), aumentando a preocupação do Banco Central:
- Isso faz com que a inflação, principalmente a inflação de serviços, fique um pouco mais apertada. O Banco Central já está subindo os juros. E, com o aperto da política monetária, você espera que a economia desacelere para não gerar pressão inflacionária. E isso não aconteceu ainda. Então, não sei se o Banco Central vai comemorar muito esse resultado do PIB.
Hoje, a taxa Selic está em 11,25% ao ano após duas altas consecutivas. Parte do mercado financeiro estima que o novo ciclo de alta deve seguir pelo menos até metade de 2025. _
Nos próximos meses, em desaceleração
O professor Marcelo Kfoury, da FGV, projeta a economia ainda no azul, mas desacelerando no quarto trimestre e em 2025. Entre os ingredientes que bancam essa estimativa, ele destaca a preocupação do Banco Central com a inflação que pode ser impulsionada por demanda aquecida:
- A expectativa é de que continue a crescer, a subir os juros para ver se desacelera um pouco a economia, para não gerar tanta inflação.
Já o professor Maurício Weiss espera uma continuidade de alta no último trimestre. No entanto, afirma que a escalada recente na taxa de juro pode frear justamente o investimento que está puxando a economia neste momento. A atratividade que o juro traz no âmbito das aplicações também pode pesar nesse sentido, segundo Weiss.
- Não só pela questão do custo, mas também por conta da alternativa melhor. Em vez de investir, alguns agentes podem aplicar no mercado de títulos privados.
A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda divulgou nota na qual estima que a atividade econômica deve continuar a crescer no próximo trimestre, "embora com desaceleração na margem". "A política monetária mais contracionista deverá restringir o ritmo de expansão das concessões de crédito e dos investimentos. Ainda assim, impulsos positivos devem vir do mercado de trabalho, que deverá seguir resiliente, estimulando a produção e o consumo das famílias", destacou trecho do comunicado da pasta.
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