quinta-feira, 26 de dezembro de 2024



26 de Dezembro de 2024
POLÍTICA E PODER

Collares era um líder singular

Desde que a morte foi anunciada, na manhã de terça-feira, o que mais se ouviu foram elogios ao "negrão de Bagé", como gostava de ser chamado. Não foram somente elogios dos trabalhistas, o que seria óbvio, mas de antigos adversários que acabaram se tornando admiradores do jeito franco e da alegria de viver do ex-governador, ex-prefeito e ex-deputado federal. Os ex-governadores destacaram a trajetória singular do menino que cresceu numa casa de pau a pique e vendia laranjas na infância pobre em Bagé.

No velório, antigos eleitores fizeram questão de dar adeus ao líder com voz de trovão, que cativava plateias com discursos de improviso e recitava poemas de sua própria autoria ou de terceiros. De todos, o mais conhecido é O Voto e o Pão, com versos que mostram o quanto a política em geral e o voto em particular impactam a vida do cidadão. Collares declamava para quem ia visitá-lo no refúgio do bairro Ipanema onde viveu os últimos anos ao lado da esposa, Neuza Canabarro.

"Se eu morrer, irei muito contrariado"

- Não me deixem morrer. Saibam que, se eu morrer, irei muito contrariado.

Collares, de fato, gostava de viver. Era um homem movido a paixão. Queria chegar aos cem, mas teve de ir embora contrariado, aos 97 anos de uma trajetória ímpar. 

Neuza realizou o último desejo de Collares: casar no religioso

No Hospital Mãe de Deus, Neuza realizou o último sonho de Collares: os dois se casaram no religioso. Eles eram casados no civil, mas Collares insistia em casar na igreja.

Neuza resistia, sabendo que ele queria festa, com muita gente. Até que Collares foi internado e precisou ser sedado porque queria arrancar o tubo de oxigênio. As filhas dela, Celina e Helena, lembraram do último desejo dele e insistiram com a mãe para que o realizasse.

As freiras do Mãe de Deus deram força. Disseram que não era problema o fato de o noivo não poder dizer sim. Quando Neuza chegou, o quarto tinha sido decorado para receber a família. Ela se emociona ao contar que, no momento em que o padre deu a bênção, Collares abriu os olhos.

Neuza esteve ao lado dele nos últimos momentos e fez questão de cada detalhe. Ela escolheu a roupa e pediu à funerária para vestir pessoalmente o terno com o qual foi enterrado. Teve o cuidado de lembrar dos óculos e explicou:

- Era assim que as pessoas lembravam dele. De óculos. Com estes óculos. _

Rosane de Oliveira

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