18 de Dezembro de 2024
OPINIÃO RBS
OPINIÃO RBS
Prevenção à radicalização juvenil
O súbito crescimento de ataques a escolas no país, em especial a partir da segunda metade de 2022 e em 2023, fez instituições, forças de segurança, educadores e profissionais da área de saúde mental despertarem para a premência de traçar estratégias para conter a escalada de atentados. Os brasileiros, acostumados apenas a tomar conhecimento de massacres cometidos por estudantes e ex-alunos de colégios nos EUA, de repente se espantaram com a sequência de barbáries perpetradas também por aqui. Era preciso agir rapidamente.
Uma dessas iniciativas, tema de reportagem de Fábio Schaffner na edição do último fim de semana de Zero Hora, é a do Núcleo de Prevenção à Violência Extrema (Nupve) do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), criado neste ano. As informações prestadas pela equipe da divisão causam sentimentos mistos.
Assustam pela constatação de que persiste em grande escala, por meio de redes sociais e no submundo da internet, o processo de radicalização de adolescentes e jovens, o recrutamento para ideologias extremas e o incentivo a atos de violência. Mas acalenta saber que ameaças com significativo risco de se materializarem acabaram neutralizadas pela atuação do MP. É a prova da importância do trabalho preventivo, com o monitoramento atento para detectar e impedir possíveis atrocidades.
O Nupve investigou 107 casos e dissipou 37 ameaças consideradas reais. Foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão. Três adultos acabaram presos e nove adolescentes, internados. Outros quatro menores foram encaminhados a instituições psiquiátricas. Deve-se ressaltar o perfil mais comum dos que são atraídos para os extremismos. São meninos, alvo de bullying, com famílias disfuncionais e que passam tempo em excesso nas telas. São capturados pelo ódio que grassa no ambiente online, em redes sociais, aplicativos de mensagens ou plataformas de chats em que a moderação e o dever de cuidado são negligenciados ou inexistentes.
Evitar um possível ataque não é tudo. Como mostra a atuação do MP, deve se dar atenção à desradicalização e ao incentivo à reinserção em uma rede de relações saudáveis. Trata-se de um esforço em múltiplas frentes. Neste sentido, é de grande valia o lançamento, na última sexta-feira, do Guia de Prevenção à Radicalização e Mobilização à Violência.
O material, encontrado no portal do MP, é voltado a famílias, comunidade escolar e rede de proteção social e de saúde mental. A cartilha, fruto do Projeto Sin@is - Precisamos Falar Sobre a Violência, traz informações valiosas sobre como perceber a radicalização, os fatores de risco, a prevenção e a orientações para libertar adolescentes e jovens de ideias extremistas.
Após o surto de ataques a escolas no país, o período mais recente, sob a influência de mais ações voltadas a rastrear potenciais ameaças, é de maior tranquilidade. As informações trazidas pelo MP, porém, indicam que a violência pode estar apenas em estado de latência, uma vez que o ódio segue a circular livre pelo ambiente online. Passa da hora de responsabilizar as plataformas de tecnologia por conteúdos do gênero. Enquanto isso, deve-se reforçar a mensagem a pais e responsáveis para manterem-se alertas ao que é acessado por crianças e adolescentes.
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