Israel e EUA fazem ataques na Síria
Lançamentos ocorreram um dia após a derrubada do governo por forças insurgentes. Alvos seriam depósitos de armas e posições do Estado Islâmico.Transição de poder começou ontem, mas incertezas preocupam comunidade internacional
O governo israelense afirmou que a operação foi feita para evitar que os materiais "caiam nas mãos de extremistas". Ao menos duas explosões foram ouvidas na capital Damasco. Já o presidente dos EUA, Joe Biden, alegou preocupação com o risco de grupos extremistas capitalizarem o vácuo de poder deixado com a saída de Assad, que fugiu para a Rússia.
Rebeldes armados liderados pelo grupo terrorista Hayat Tahrir al Sham (HTS) assumiram o controle de Damasco no fim de semana, 10 dias após o início da ofensiva que tomou várias cidades do país. Ao mesmo tempo em que foi saudada por boa parte da comunidade internacional, a queda de Assad após quase 14 anos de guerra civil também gerou receios, já que o país está dividido entre grupos armados.
Ontem, o ex-primeiro-ministro Mohammed Ghazi al-Jalali concordou em entregar o poder. Já o líder dos rebeldes, Abu Mohammed al-Jolani - que agora usa seu verdadeiro nome Ahmad al-Shareh - prometeu "uma transição que garanta o fornecimento dos serviços à população".
Também estava presente na reunião Mohammed al-Bashir, que anteriormente serviu como chefe de uma administração comandada por rebeldes no noroeste da Síria, e é cotado como possível líder de um futuro governo.
Os rebeldes também informaram, em uma rede social, que as Forças Armadas de Assad terão anistia completa.
Europeus suspendem processos
Desde o início do conflito, cerca 6,2 milhões de sírios se refugiaram em outros países, segundo a Acnur, agência das Nações Unidas (ONU) para refugiados. Na Europa, são cerca de 1 milhão de deslocados. Os países alegam que precisam avaliar a possibilidade de retomada das deportações diante da transição de poder na Síria. _
Governo russo confirma que concedeu asilo
O porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, confirmou ontem que Bashar al-Assad recebeu asilo no país. Peskov não informou onde exatamente Assad está na Rússia e disse que não há previsão de encontro dele com o presidente Vladimir Putin.
A Rússia era, ao lado do Irã, a principal aliada de Assad nos últimos anos. Moscou se envolveu militarmente no conflito sírio em 2015.
Em um gesto simbólico, a bandeira da oposição foi hasteada na embaixada da Síria em Moscou ontem.
Representação evacuada
Também ontem, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil ordenou a evacuação da embaixada em Damasco. Os funcionários foram levados até Beirute, capital do Líbano.
O objetivo, segundo o Itamaraty, é proteger o corpo diplomático. O Itamaraty também orientou que brasileiros que estão na Síria deixem o país imediatamente. _
sua segurança
Queda de regime não significa calma no país
O fim dos 50 anos da família Assad no poder na Síria está longe de significar calma. Nesse país que é uma encruzilhada física e cultural do Oriente Médio, pelo menos cinco grandes grupos guerrilheiros disputarão espaço geopolítico - além das forças do antigo regime, que não são pequenas.
Quem formalmente assumiu a tarefa de montar um governo é o Hayat Tahrir al-Sham (HTS). É um grupo islâmico que no passado foi o braço local da Al Qaeda, mas que rompeu com ela pela disposição em formar alianças para combater o regime de Assad.
Com o HTS entraram na capital, Damasco, integrantes do Exército Livre da Síria (ELS), um grupo formado por militares que discordavam da ditadura Assad e que recebeu amplo apoio do Ocidente. Não é religioso e conta com apoio velado de Arábia Saudita, Estados Unidos e países europeus. Predomina no sul do país.
No nordeste, o domínio é do Exército Nacional Sírio (SNA), apoiado pela Turquia e que tem como principais inimigos os curdos, etnia que domina o noroeste da Síria. As milícias curdas disputam espaço com remanescentes do Estado Islâmico (EI), que chegou a controlar a fronteira síria com o Iraque e hoje apenas domina alguns campos de petróleo.
E existem também grupos menores, em sua maioria radicais islâmicos.
É preciso ainda saber o que será feito no litoral do Mediterrâneo, região com duas bases aeronavais russas e amplo apoio ao regime deposto de Assad.
Ontem, um Conselho Nacional de Transição foi formado. A meta é a proteção a todos os cidadãos do país e a preservação da unidade territorial. Vai funcionar? Mente quem disser que sabe.
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