sábado, 14 de dezembro de 2024


13 de Dezembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

O palavrão que o BC tenta afugentar

Elevações de 1 ponto percentual de uma só vez na taxa Selic são raras. Anúncios de que essa dose será repetida mais duas vezes em apenas três meses, então, mais excepcionais ainda. Decisões como a tomada na quarta-feira pelo Banco Central costumam passar à história, portanto têm motivos igualmente extraordinários.

Uma das justificativas não escritas no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) é um palavrão econômico (ou dois): o temor de que se caracterize um cenário de dominância fiscal.

O termo já frequentava o debate econômico, na maior parte dos casos para negar que já esteja configurado. Mas a frequência com que é citado como ameaça ajuda a explicar o tamanho da pancada que o Copom decidiu dar.

Dominância fiscal é uma circunstância caracterizada quando o desequilíbrio das contas públicas é tão grande que torna a política monetária - a definição do juro - sem efeito. Mais ainda, quando elevações do juro, adotadas para frear a atividade econômica e, assim, tentar controlar a alta de preços, fazem efeito contrário: aumentam a inflação.

Reação em cadeia

Como isso seria possível? Quando o juro sobe, leva junto a boa parte da dívida pública que varia conforme a Selic. Isso significa ainda maior gasto com a rolagem dos títulos, acentuando a percepção de risco e, assim, pressionando o dólar - que, por sua vez, contamina os preços.

O Brasil está em dominância fiscal? A maioria dos economistas avalia que não. Mas existe a estimativa de que, a cada 1 ponto percentual a mais no juro básico, a dívida sobe R$ 50 bilhões. Como o BC contratou 3 pontos percentuais, a elevação ficaria em R$ 150 bilhões. É muito até para os absurdos R$ 7 trilhões de dívida do Brasil.

Boa parte do mercado financeiro foi surpreendida pela duríssima decisão do BC. A alta de 1 ponto percentual era esperada. Mas não o aviso de que virão mais duas até 19 de março - embora a coluna tenha esboçado alto para tentar amainar o susto. Muitos indicadores para a economia em 2025 terão de ser revisados à luz dessa nova situação. _

Dólar ignora choque de juro e volta a R$ 6

Embora não tenha registrado grandes oscilações ontem, a cotação variou entre a abertura abaixo de R$ 6, como se esperava, e a subida discreta no fechamento. O que despencou, mesmo, foi a bolsa. O Ibovespa caiu 2,67%, para 126.132 pontos, com ações de empresas de varejo desabando até dois dígitos. Foi uma reação esperada ao choque de juro, que vai encarecer o crédito e reduzir o consumo.

Com dois leilões de linha, que vendem dólares das reservas, o BC tinha intenção de ao menos fazer a cotação recuar para abaixo dos R$ 6, mas não conseguiu. Segundo analistas, o fracasso se deveu ao resultado da inflação ao produtor nos Estados Unidos.

Até agora, tanto o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, quanto o futuro, Gabriel Galípolo, vinham dizendo que a instituição só interviria no câmbio em caso de "disfuncionalidade" (quando algo não funciona como o esperado). _

O perdão a armas e bebidas açucaradas

Se ao menos o atraso na regulamentação da reforma tributária sobre o consumo tivesse mesmo incluído a cobrança de imposto seletivo - apelidado de "imposto do pecado" - na compra e venda de armas, teria sido menos ruim.

Ficaram no "pecado" as apostas seletivas, mas também caiu a alíquota mais pesada para bebidas açucaradas (refrigerantes, sucos e outras misturas desaconselhadas por nutricionistas).

Foi um festival de lobbies, que agora terão de passar pela Câmara dos Deputados. 

Federasul prevê Selic a 15,75% no próximo ano

Ontem, na apresentação de balanço de 2024 e perspectivas para 2025, a entidade elevou sua previsão em 1,5 ponto percentual, com Selic a 15,75% no próximo ano.

A projeção elaborada pelo vice-presidente e coordenador da divisão da Economia da Federasul, Fernando Marchet, parte do pressuposto de que o governo vai "dobrar a aposta" do estímulo fiscal.

- Em vez de adotar ações para melhorar o fiscal, com impacto de curto prazo para economia se reajustar, entendemos que o governo vai apostar no crescimento, de onde vem sua popularidade - diz Marchet.

Isso faria o BC "correr atrás", elevando o juro para segurar a inflação. É também o que ajuda a explicar a projeção de inflação da Federasul para 2025 de 5,12%, acima do que estima para o fechamento para este ano, de 4,85%.

A Federasul prevê para 2025 um ano melhor para o Rio Grande do Sul do que para a média nacional. Projeta alta do PIB gaúcho em 4,28% neste ano e 3,21% no próximo. Já o PIB nacional deve crescer 2,47%, diz a entidade. 

GPS DA ECONOMIA

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