PERSONAGEM DAS FESTAS
Ser Noel - Uma profissão marcada por bondade e sorrisos
Personagem das festas
Zero Hora acompanhou a rotina de quem passa o dia fantasiado em um shopping da Capital. É o caso de José Vicente Pokorski, 67 anos, que há mais de duas décadas se transforma no Bom Velhinho. Todo final de ano ele se dedica a ouvir pedidos de crianças e adultos, além de receber muitos abraços.
Agora com 67 anos e 116 quilos, Vicente não precisa mais tingir a barba nem engordar artificialmente. Aposentado, tem uma rotina tranquila de janeiro a setembro. O ritmo muda com a chegada da primavera e o lançamento das primeiras campanhas de Natal das empresas. É quando tira a roupa vermelha do armário, transforma o carro num trenó imaginário e passa os dias recebendo abraços e pedidos de crianças e adultos.
Bengala e sineta
Pelo sexto ano consecutivo, Vicente é o Papai Noel do Shopping Praia de Belas. Todos os dias, ele chega por volta das 9h e se dirige ao terceiro andar. Numa loja desativada, troca a calça jeans pela pantalona rubra, a camisa pelo casaco de cinto largo, cobre a cabeça com a touca de pompom na ponta e finaliza o figurino com a bengala numa mão e a sineta na outra. Sentado numa poltrona espaçosa, pisca o olho, abana a mão e abre um sorriso largo.
- É muito emocionante ser Papai Noel. Há uns dois anos, uma senhora sentou ao meu lado, me abraçou e disse que sabia que eu não era milagreiro, mas queria de Natal a cura da mãe, doente de câncer. Um ano depois, ela voltou para me agradecer, dizendo que a mãe tinha melhorado - conta.
Em média, ele recebe de 200 a 300 cartinhas diariamente, mas já teve ocasião em que atendeu 1.740 pessoas em oito horas de expediente. As meninas pedem bonecas. Os guris, Lego. Mas, esse ano, o presente mais pedido tem sido o iPhone 16 Pro Max, cujo preço salgado Vicente trata de salientar, num gesto de solidariedade muito bem recebido pelos pais. Vicente não esquece o dia em que entregou uma bola de futebol num evento escolar e o menino esperou até o fim da festa para tentar trocar a bola por um cachorro-quente, pois não tinha comida em casa.
Agenda intensa
Essa semana, uma criança chorou porque não tinha se comportado direito. Eu disse que a perdoava e ela voltou a sorrir. Muitas vezes esse medo de Papai Noel é culpa dos pais, que dizem que eu não vou dar presente.
Ana Julia Lemes, sete anos, não tem essa preocupação. Após passear pelo shopping com o pai, o motorista Júlio César Lemes, pediu para ir conversar com Papai Noel. De mão dada com Vicente, contou ter passado de ano no colégio e ter sido uma boa filha em 2024. De Natal, pediu uma boneca da franquia Divertida Mente e um fone de ouvido.
- Ele me perguntou se eu me comportei bem, e eu disse que sim - salientou Ana Julia.
O profissionalismo de Vicente é tamanho que a própria neta, Isabela, seis anos, não reconhece o avô por detrás da fantasia. Até 25 de dezembro, Vicente tem apenas uma noite livre. Na noite de Natal, tem 12 visitas contratadas.
- Vou parar lá pelas duas da madrugada. A família reclama. Eles têm um Papai Noel em casa, só que ele nunca está em casa - resigna-se.
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