sábado, 7 de dezembro de 2024


A cobiçada

janela do avião

Virou enquete nacional: você daria ou não a poltrona da janela para uma criança chorando? Viralizou vídeo que deflagrou esse debate nas redes sociais, na última quarta-feira. As imagens mostram uma bancária mineira, Jennifer Castro, com fones de ouvido, sentada na janela do avião. A jovem foi exposta porque se negou a ceder o lugar para um menino.

A mãe contrariada queria que seu filho se sentasse na janela, como forma de acalmar o choro (ou birra) dele. O tiro saiu pela culatra. A internet apoiou a bancária, tanto que ela ganhou um milhão e meio de seguidores em alguns dias.

Vamos por partes. A mãe não tinha se sentado na mesma fileira com o seu pequeno. Se assim fosse, poderia apenas solicitar uma troca de lugar, da janela para o corredor.

Eu já fiz muito isso, para deixar pai ou mãe junto de seu filho, ou para não separar um casal. Trata-se de um acordo simples, sem trauma.

Não era o caso. A mãe não parecia interessada em se acomodar ao lado do filho. Ela partiu para cima de um alvo, uma pessoa solitária na janela, e demandava o assento avulso.

Num péssimo hábito contemporâneo, a câmera é sacada como uma arma por uma terceira pessoa, fazendo uma denúncia um tanto injusta.

"Tô gravando a sua cara, porque você não tem empatia com as pessoas. Isso é repugnante, no século 21, a pessoa não ter empatia com uma criança. Se fosse com um adulto, tudo bem, agora com uma criança é demais", disse quem filmou, tomando as dores maternas.

A gravação vem de trás. E a mãe não pediu, mas intimou, constrangeu, escancarou ao escárnio a jovem, que demorou para entender o que estava acontecendo, pois se encontrava descansando de olhos fechados.

Havia uma prepotência no gesto, que não tolerava qualquer recusa. Ou seja, a mãe obrigava a troca em nome de um bom senso da sua cabeça. O modo de reivindicar o lugar foi agressivo, acintoso. Não existiu educação na abordagem.

Duvido que, com gentileza e carinho, a bancária não se levantaria dali. Faltou justificar cordialmente a necessidade.

A princípio, o enrosco pôs em evidência uma mãe que não é capaz de impor limites para o seu próprio filho, buscando satisfazer um capricho. Pretendia calar a gritaria com um súbito conforto, com um presente inesperado (a ser dado pelos outros).

Se a mãe sentia um desejo imenso e inadiável de colocar seu rebento na janela, por que não comprou o espaço com antecedência, adotando o exemplo da bancária?

Na hipótese de não desfrutar de condições para adquirir o upgrade, um dos pilares da boa educação é adaptar as crianças, sempre exigentes, para a realidade financeira da família.

De toda maneira, a comunicação direta e afrontosa já apresentava um vício de origem, porque cabe à tripulação mediar esse procedimento. O assento é pessoal e nominal. A realocação de passageiros pressupõe uma formalidade e uma autorização dos profissionais do voo.

Perguntar não ofende, acusar sim. A elegância da bancária, acostumada à pressão dos clientes de seu banco, sem responder à ameaça, sem agredir de volta, forneceu equilíbrio para aquela aeronave.

Diante dos excessos alheios, nada melhor do que o silêncio. O silêncio terapêutico sempre será um céu de brigadeiro. 

CARPINEJAR 

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