14 de Dezembro de 2024
MAARCELO RECH
Negacionistas de ontem e hoje
Com razões sobradas, a pecha de negacionista colou no governo Bolsonaro. Ainda que apenas o círculo mais fanático em torno do ex-presidente repelisse teses amplamente comprovadas, como a eficácia das vacinas e os riscos do aquecimento global, sem contar a segurança das urnas eletrônicas, Jair Bolsonaro trocou o que seria uma reeleição provável pela insistência em se fiar em teorias da conspiração para negar a realidade.
Pois o governo Lula também passou a viver no modo negacionista, mas, desta vez, na economia. Lula e boa parte de seu séquito mais próximo não acreditam que governos devem gastar menos do que arrecadam e se negam a assimilar que a taxa de juros e o câmbio nas alturas são resultados de suas atitudes frouxas quanto ao equilíbrio fiscal. Para eles, assim como para os bolsonaristas radicais, as agruras são fruto de alguma conspiração oculta e poderosa - nunca o efeito perverso de suas próprias crenças e decisões.
Bolsonaro condenava a vacina da covid, mas, ao menos, seu governo as comprava e as distribuía, sob pressão de vozes abalizadas. Já Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o chefe da Casa Civil, Rui Costa, ignoram os alertas dos economistas e se fecham em um triângulo do negacionismo populista, no qual, diante de uma pífia contenção de gastos, desaparecem as esperanças de uma economia estável, com juros baixos e inflação na meta.
Quanto mais Lula e o PT atacam o mercado, que resume o sentimento das forças econômicas diante de expectativas baseadas em estatísticas, mais se confirma seu negacionismo e pior fica a situação. E as circunstâncias só se agravam porque quem tem meio olho aberto vê que a relutância em enfrentar de verdade o déficit espelha a busca obstinada pela reeleição.
Pela expectativa do mesmo mercado no ano passado, a taxa de juros era para estar entre 8% e 9% neste fim de ano. O que aconteceu? O governo derrubou o teto de gastos, mas o tal arcabouço fiscal, que o substituiu, não impede o crescimento da curva explosiva da dívida pública. A realidade, porém, não vai mudar porque os chefes de governo vivem em suas bolhas conspiratórias, com os ouvidos dispostos a ouvir apenas aquilo que desejam.
Tanta negação sobre a urgência de um dever de casa sério e profundo das contas públicas catapultou a taxa futura de juros para impensáveis 15%. Um índice neste patamar é um assalto ao planejamento financeiro dos brasileiros, da família da periferia que comprou uma TV aos empresários que tomaram empréstimos para expandir seu negócio. Em homenagem ao negacionista que criou e fomenta essa expectativa, ela deveria se chamar Taxa Lula. _
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