As marcas visíveis e invisíveis da enchente
Na quarta-feira, o Mercado Público de Porto Alegre ganhou uma placa com a marca da enchente de 2024: 1,5 metro. Foi este o ponto que a água atingiu, em 8 de maio, na porta de entrada próxima do Largo Glênio Peres. Abaixo dela está outra, simbolizando o nível que o dilúvio chegou ali em 1941: 1,09 metro.
Essas são as placas oficiais, feitas de metal. Há milhares de outras, tatuadas em muros de casas e fachadas de prédios. Basta circular pelo Centro Histórico, ao longo das avenidas Farrapos e Voluntários da Pátria, no 4º Distrito, na Cidade Baixa, no Menino Deus, no Sarandi e no Humaitá, para vermos que o barro do Guaíba, sete meses depois, se tornou um marrom esmaecido em algumas paredes.
São as marcas visíveis do aguaceiro que se abateu sobre a metrópole. Há, claro, aqueles sinais que não se enxerga a olho nu. Nos últimos dias, eu, o fotógrafo Jefferson Botega e a assistente de conteúdo Mari Lapinski circulamos por Porto Alegre em busca das marcas invisíveis deixadas pela tragédia climática.
Na Avenida Farrapos, por onde circulamos de barco em maio, a lembrança do cheiro da água podre está ainda impregnada na mente. E é como se os ouvidos ficassem incomodados com o silêncio daqueles dias, à época cortado apenas pelo barulho do remo batendo na água e por um ou outro ruído interno vindo dos apartamentos de quem ficou.
O Guaíba abocanhou Porto Alegre, redesenhando o mapa da cidade. Não definíamos mais nossa localização por ruas ou avenidas. Tudo virara um amálgama de água. Na Estação Farrapos, esticava-se o olhar por onde a Avenida Farrapos dobra em direção ao aeroporto Salgado Filho, e até onde a vista alcançava não havia terra firme. A cidade fora engolida por dentro e por fora.
De volta ao Mercado Público, onde havia escuridão e lodo naqueles dias, o burburinho retornou: o grito dos balconistas na área dos pescados, o chiar das facas roçando na chaira entre os gaudérios, o escoar de nozes, castanhas, pistache e macadâmia dos tonéis para os potes nas bancas dos grãos. São ruídos que podem se tornar símbolo de que dias melhores virão.
Claro que todas essas marcas em nossa memória nem de longe se aproximam de quem viveu a tragédia por dentro, de quem sofreu e perdeu amigos, familiares, casas e móveis. Cada porto-alegrense, cada gaúcho, tem a sua história, a sua marca indelével do desastre. _
Programa de transição energética
A Câmara dos Deputados aprovou nesta semana o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten). Foram 448 votos favoráveis, 14 contrários e uma abstenção.
O programa cria mecanismos de financiamento para incentivar a produção de energia limpa e renovável em vez de combustíveis fósseis. _
Quais setores serão beneficiados?
As áreas de gás natural, carvão, energia nuclear e o agronegócio. No caso do carvão, um combustível fóssil altamente poluente, a ideia é estimular a transição para outras fontes por meio do desenvolvimento de setores que venham a substituir essa atividade econômica.
Como vai funcionar?
O Paten cria um fundo de garantias para o desenvolvimento sustentável, o chamado Fundo Verde. Vai viabilizar o financiamento de projetos para alocar recursos em iniciativas que promovam a transição energética. O fundo será administrado pelo BNDES.
Que projetos serão beneficiados?
O uso será exclusivo para projetos vinculados ao programa - Estados e municípios poderão acessar os recursos por meio de convênios com a União. Devem ser iniciativas destinadas para infraestrutura, pesquisa tecnológica e inovação com benefícios socioambientais.
Quem mais pode ser beneficiado?
Ativos de mobilidade logística nos segmentos rodoviário, ferroviário e hidroviário, incluindo caminhões fora de estrada, equipamentos agrícolas, ônibus e micro-ônibus, movidos a biometano, biogás, etanol e gás natural.
O que está previsto para o setor elétrico?
Concessionárias e permissionárias de serviços públicos de distribuição de energia elétrica ficam obrigadas a aplicar, anualmente, no mínimo, 0,50% de sua receita líquida em pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico e 0,50% em programas de eficiência energética.
Escritório de Reconstrução continuará atuando
Por 20 votos a nove, a Câmara Municipal da Capital aprovou, na quarta-feira, a continuidade do Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática de Porto Alegre, que tem no comando o secretário Germano Bremm, titular da pasta de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus).
O escritório é a estrutura responsável pela gestão, execução e monitoramento das ações, atuando de maneira transversal, garantindo a articulação entre diversos órgãos municipais, estaduais e federais. É responsável, por exemplo, pela gestão de obras para recuperar e melhorar o sistema de defesa contra cheias da Capital.
O escritório está ligado diretamente ao gabinete do prefeito Sebastião Melo. "A complexidade das obras de infraestrutura, a finalização de projetos habitacionais e urbanísticos, bem como a adaptação climática, demandam esforços contínuos, que dependem de um planejamento integrado e da disponibilidade de recursos técnicos e financeiros", diz o Executivo.
- A cidade viveu a maior tragédia da sua história, 30% do território foi afetado, mais de 300 equipamentos públicos municipais foram destruídos e o prejuízo público foi de mais de R$ 12 bilhões. Recuperar a cidade não é uma tarefa simples e exige um esforço gigantesco de muitas mãos. A prorrogação do Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática pelos vereadores mostra o compromisso não só em recuperarmos a cidade, mas torná-la Porto mais forte e resiliente - afirmou Bremm à coluna, logo após a aprovação na Câmara.
O órgão havia sido criado a partir de projeto aprovado pela Câmara Municipal em julho em caráter temporário.
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