A palavra do ano
Assim como o panetone, as lentilhas e os três pulinhos nas ondas do mar, a escolha da palavra do ano também já pode ser incorporada entre as tradições de dezembro - este mês bipolar que conjuga votos de paz e amor com correria, depressão e mau humor. Vários povos deste planeta fervente costumam eleger o termo nacional que melhor representa o espírito de determinada época. Claro, nunca há unanimidade, até mesmo porque são diversas as fontes de pesquisa. E o desafio é imenso: achar uma palavra ou expressão que resuma o sentimento predominante de uma nação inteira, ainda mais em tempos de polarização (termo que vem disputando as primeiras colocações há vários anos).
Algumas fontes, porém, se sobressaem. É o caso da conceituada Universidade de Oxford, na Inglaterra, que acaba de anunciar a expressão "brain hot" (em tradução livre, "cérebro apodrecido") como a mais representativa do momento. Expressa a deterioração do estado mental ou intelectual das pessoas devido ao consumo excessivo de conteúdos de baixa qualidade na internet, mais especificamente em redes sociais como Instagram e Tik Tok.
Como diz o provérbio bíblico, há palavras que ferem como uma espada.
A escolha brasileira não é menos dolorida. O Instituto de Pesquisa Ideia e PiniOn elegeu a palavra "ansiedade" como definidora do sentimento nacional neste ano que termina. O levantamento foi feito com 1.538 brasileiros de todas as regiões do país, e a maioria colocou ansiedade na frente de "resiliência", "inteligência artificial" e "incerteza", que também foram bem votadas. As justificativas são semelhantes às do cérebro apodrecido dos ingleses: o impacto das redes sociais, o excesso de telas e a sensação de que estamos sempre atrasados em relação às transformações tecnológicas.
Não ouso discordar, pois as evidências são inquestionáveis. Mas também não renuncio a uma escolha pessoal que vai um pouco além de "paz", "amor", "prosperidade" e outros termos idealizados. Minha palavra preferida nem é minha, é de Confúcio, e vale para qualquer ano. Quando os discípulos perguntaram ao sábio chinês se ele era capaz de resumir toda a sua filosofia numa só palavra, ele respondeu: "reciprocidade".
Ou seja: trate os outros como gostaria de ser tratado. Simples assim. _
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