Lula e Haddad acenam com novos cortes
Desde que o pânico tomou conta do mercado financeiro, havia mobilização para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desse uma mensagem de tranquilização. Aproveitou que Gabriel Galípolo antecipou para sábado o início de sua gestão na presidência do Banco Central (BC), porque Roberto Campos Neto entrou em recesso. Garantiu que ele será "o presidente com mais autonomia que o BC já teve", mas o trecho do qual o mercado mais gostou foi o que fala em atenção "à necessidade de novas medidas". O dólar, que já vinha mais calmo depois de injeções acumuladas ao recorde de US$ 23 bilhões, teve a mínima do dia logo depois e fechou em queda de 0,81%, a R$ 6,072.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também havia mencionado essa hipótese, sinalizando que seriam adotadas a partir de março. Com base nas críticas de economistas focados em contas públicas e o mercado, a coluna detalha a seguir o que é possível esperar e o que é inútil imaginar.
O que pode vir à frente
1. Matemática: especialistas em contas públicas com formação fora do mercado financeiro, como Tiago Sbardelotto e Felipe Salto, avaliam que as estimativas da equipe econômica estão otimistas. Ambos (que não se conhecem) convergem para valor perto de R$ 45 bilhões em dois anos. Então, entregar mais medidas com projeções mais realistas seria boa ideia.
2. Medidas estruturais: as duas mais citadas chegaram a compor o pacote de Haddad, mas foram descartadas nas reuniões ministeriais. A desvinculação dos benefícios da Previdência do aumento real do salário mínimo manteria a promessa de campanha e deixaria de pressionar as despesas previdenciárias a ponto de despertar debate sobre necessidade de nova reforma. Aposentadoria e outros benefícios manteriam a correção pela inflação, mas não o aumento real concedido aos trabalhadores da ativa para compartilhar ganhos de produtividade. A desvinculação dos gastos em saúde e educação do aumento de receita manteria a destinação já elevada a esses dois segmentos socialmente relevantes sem risco de desperdício de recursos. _
A presença mais surpreendente ao lado de Lula no vídeo gravado para sossegar o mercado foi a da ministra do Planejamento, Simone Tebet. Na reta final da discussão dos cortes de gastos, havia sido escanteada. É bom que volte.
Food Hall fecha para reabrir como Country
A Dado Bier antecipou o encerramento de sua operação no Bourbon Country para domingo. E já está definida a ocupação do espaço deixado pela empresa gaúcha pioneira nas cervejas artesanais.
A marca Food Hall Country nasce para rebatizar o antigo Dado Bier Food Hall. A reformulação ainda inclui a chegada de duas novas operações de bebidas - antes responsabilidade da Dado Bier. A gestão do espaço passa a ser toda da Airaz, administradora do Bourbon Country e de outros shoppings do Grupo Zaffari.
Os sete restaurantes do antigo Dado Bier Food Hall serão mantidos. A operação de bebidas será do Hall Bar Embaixada Gourmet, que vai cuidar de drinques, cervejas e chopes da marca Heineken, e do Volupta Wine Bar, que vai servir vinhos.
O Food Hall Country permanecerá fechado para adaptações e manutenções até 1º de janeiro. A reabertura ocorre no dia 2. _
R$ 8 bilhões
é o cálculo do economista Tiago Sbardelotto, da XP Investimentos, sobre a desidratação do pacote de corte de gastos no Congresso. Conforme Sbardelotto, o valor da economia entre 2025 e 2026 cai de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões. Segundo o governo, cairia de R$ 71,9 bilhões para cerca de R$ 70 bilhões.
Tomamos as medidas necessárias para proteger a nova regra fiscal e seguiremos atentos à necessidade de novas medidas.
Luiz I. Lula da Silva
Presidente da República
sorriso aberto
Pela manhã, indagado por jornalistas se havia se desgastado nos últimos dias, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, rebateu dizendo que equivalia a perguntar a um corredor de maratona se estava cansado. Pouco depois, no vídeo em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acenou com "novas medidas", apareceu um Haddad mais magro, mas com um sorriso de orelha a orelha, meio irônico em alguns momentos. O ministro ao lado, ao contrário, manteve-se carrancudo.
Como a crise financeira pode contagiar a economia real
Depois da apresentação do pacote de corte de gastos considerado insuficiente por especialistas em contas públicas, o dólar disparou e, na tentativa de acalmar o mercado, foi anunciado um choque de juro.
Desde então, começou a ser discutida a possibilidade de uma recessão no Brasil. Isso significaria ao menos dois trimestres seguidos de queda no PIB, com redução no consumo e na renda, o que significa empobrecimento da população.
Mas não é só um problema do "mercado"? Crises financeiras podem contagiar a economia real quando são ou muito profundas ou muito longas. Os mecanismos de transmissão de problemas são exatamente dólar, inflação e juro - mais ou menos nesta ordem.
Quando o dólar sobe muito ou fica alto por muito tempo, aumenta o preço em reais de vários tipos de produto: dos óbvios importados aos que têm componentes vindos do Exterior, incluindo até os que são produzidos no Brasil, com custo em reais, mas cujo preço é definido no mercado internacional, como petróleo, soja e aço, por exemplo.
Isso provoca aumento da inflação e, em consequência, o Banco Central (BC) precisa elevar o juro - ou deixar a taxa básica alta mais tempo - para tentar frear os repasses em cadeia que costumam ser feitos quando isso ocorre.
O crédito mais caro reduz o consumo de produtos e serviços de maior valor, que raramente são pagos à vista, como casa própria, veículos e até eletrodomésticos como fogão e geladeira.
A essa altura, o crédito para o investimento produtivo já ficou mais caro com a subida dos juros futuros, que servem de referência para o financiamento de longo prazo.
Há risco de recessão?
Mas isso significa que uma recessão, ou seja, um empobrecimento geral da população, especialmente das faixas de renda mais baixa, já está contratada? Há controvérsias. A Fecomércio-RS prevê que há risco considerável, mas por ora o que a maioria dos economistas prevê para 2025 é uma desaceleração da economia, ou seja, crescimento menor do que o deste ano, que deve ficar ao redor de 3,5%.
- Falar em recessão, hoje, é pintar um cenário muito escuro. Não descarto a hipótese, mas não é o cenário que a Austin trabalha. O que vemos é desaceleração da economia. Com essa surpresa do Copom na semana passada, revisamos para baixo o crescimento do PIB para 2025, de 1,9% para 1,7% - afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. _
GPS DA ECONOMIA
Nenhum comentário:
Postar um comentário