Apicultura
Após enchente, RS tenta recuperar produção de mel. Parceria entre iniciativa privada e poder público gaúcho busca substituir pelo menos 2,2 bilhões de insetos levados pela água ou que pereceram por falta de alimento e manutenção adequada, especialmente nos vales do Taquari e do Caí. Antes da inundação, Estado era o maior produtor do país
As enchentes que devastaram regiões inteiras do Rio Grande do Sul desde o ano passado também destruíram pequenas comunidades fundamentais para o equilíbrio ecológico e o sustento de milhares de produtores rurais. Agora, uma operação envolvendo a iniciativa privada e o poder público estadual procura recompor a perda de cerca de 45 mil colmeias, onde viviam ao menos 2,2 bilhões de abelhas, concentradas em regiões como os vales do Taquari e do Caí.
O plano para substituir enxames levados pela água ou que pereceram por falta de alimento envolve a distribuição de caixas doadas por produtores paranaenses e a geração de novas abelhas "princesas" em um centro de pesquisas gaúcho. A estimativa da Federação Apícola do Estado (Fargs) é de que o trabalho levará de quatro a cinco anos para ser concluído.
Até o ano passado, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o RS se mantinha como o maior produtor de mel no país. Os gaúchos extraíram 9,1 mil toneladas do alimento, o que gerou valor de R$ 124 milhões apurado pela Pesquisa da Pecuária Municipal. Desde setembro de 2023, porém, milhares de colmeias pereceram em meio ao caos climático. Além da importância econômica, os insetos são considerados peças fundamentais na engrenagem da natureza por sua função de polinizadores dos mais variados tipos de vegetais.
Como o Estado conta com cerca de 450 mil colmeias, estima-se que pelo menos 10% de toda a rede de produção de mel tenha sido comprometida. Mas a devastação se concentrou nos vales do Taquari, do Caí e do Paranhana, onde a Fargs calcula perdas de até metade dos enxames.
A produtora rural de Lajeado Shirlei Dieter, 59 anos, foi uma das prejudicadas pela elevação do Rio Taquari. Em maio, 60 das suas caixas de abelhas foram arrastadas pelo rio - somente cinco escaparam da enxurrada.
- Conseguimos recuperar uma parte das caixas que foram levadas. Algumas estavam penduradas (em árvores) - lamenta ela.
Retomada
A propriedade já voltou a somar 25 enxames, e Shirlei recebeu a doação de mais quatro caixas provenientes do Paraná. Na quinta-feira, Shirlei conseguiu coletar os primeiros seis quilos de mel após a tragédia.
O projeto destinado a ajudar os apicultores gaúchos envolve a doação de até mil caixas do Paraná - cerca de 200 já foram entregues, e outras 300 devem chegar em breve. Elas são transportadas por caminhões disponibilizados pela Seapi e reunidas no Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Apicultura (Ceapis), no município de Taquari. De lá, são encaminhadas para pequenos apicultores selecionados pela Emater, que também auxilia no transporte até as propriedades. Em preços de mercado, cada caixote de madeira custaria mais de R$ 200. _
Parque está produzindo "princesas" em larga escala
Instalada no Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Apicultura (Ceapis) de Taquari por meio de um acordo com o governo estadual, responsável pela área, a Fargs vai distribuir abelhas "princesas" produzidas aos milhares no local. As chamadas princesas são abelhas que, após fecundadas, se tornarão rainhas e serão capazes de perpetuar as colmeias ou dar origem a novos enxames.
No parque de Taquari, elas são "fabricadas" em larga escala. Para gerar cerca de 250 princesas por semana, são utilizados quadros de madeira com pequenas cúpulas (metade de uma esfera), onde larvas das abelhas são acomodadas e recebem a alimentação especial (chamada geleia real) para se converterem em futuras rainhas.
No centro de pesquisa de Taquari, há uma pequena construção de alvenaria denominada Casa das Rainhas, onde esse trabalho é realizado sob condições controladas de temperatura e umidade. O objetivo da manipulação, além de aumentar a quantidade de insetos produzidos, é garantir a melhor genética possível. Ao receber a princesa, o apicultor já deve contar com abelhas operárias e o zangão que vai fecundá-la.
- O ideal é que ela seja fertilizada no microclima que ela vai encontrar, por um zangão daquele microclima. Se sair daqui já como rainha, pode não se adaptar ao ambiente que vai encontrar - explica o presidente da Fargs, David Emenegildo.
A futura rainha pode garantir a continuidade da colmeia, ampliando sua produtividade, ou dar origem a um novo enxame a partir da divisão de uma comunidade já existente.
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