terça-feira, 31 de dezembro de 2024



31 de Dezembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Anderson Aires

Reta final realça pressões sobre Galípolo

Os mais recentes indicadores econômicos, divulgados na reta final do ano, reforçam o tom de pressão que deve dominar o início do mandato de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central (BC). Assumindo a cadeira da presidência oficialmente a partir desta quarta-feira, Galípolo enfrenta de cara emprego ainda aquecido, câmbio desvalorizado, economia fechando o ano acima do esperado e mercado estressado. Mesmo que contratações em alta e atividade aquecida passem a impressão geral de boas notícias, a união desses fatores pressiona os preços e embaraça a caçada pela meta de inflação por parte do BC.

Divulgado ontem, o último Relatório Focus do ano confirmou a aposta em atividade acima das projeções e juro e inflação persistentes ao longo do próximo ano, mesmo que com um asterisco (veja mais abaixo).

Na última sexta-feira, o IBGE apontou taxa de desemprego recuando para 6,1% - menor índice de desocupação registrado desde o início da série histórica, em 2012. No mesmo dia, dados do Novo Caged, que pega apenas postos com carteira assinada, informaram que o país chegou, em novembro, ao maior estoque de empregos da história: 47,74 milhões vínculos ativos.

Desafios

O avanço do emprego convive com dólar acumulando salto de 27% no ano e economia flertando com alta de 3,5% em 2024. Mercado de trabalho e atividade aquecidos aumentam o potencial de compra das famílias, o que respinga em mais demanda e crescimento da inflação. Tudo isso em ambiente fiscal tenso.

- O grande desafio é trazer essa inflação para dentro da meta, depois continuar reduzindo e equilibrar o tripé, que conta com controle inflacionário, mercado de trabalho e atividade econômica. Então, o principal desafio vai ser esse. Além disso, tem a questão política - avalia o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Como lembrado por Agostini, além dos pontos técnicos, Galípolo vai precisar transitar de maneira mais harmoniosa entre mercado e governo. Seu antecessor não teve muito sucesso nessa missão. _

Ainda na segunda, Galípolo tratou sobre o termo de posse em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O BC ainda não confirmou algum evento oficial na quarta-feira.

Como confiar nas projeções econômicas para 2025 ?

Um dos principais instrumentos de planejamento no país, o Relatório Focus, chamado informalmente de "consenso de mercado", errou quase tudo em 2024. As primeiras projeções do ano apontavam para PIB de 1,52%, dólar a R$ 5 e taxa básica de juro de um dígito.

Conforme o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, entre o primeiro e o último dia útil de 2024, houve grande recálculo de rota por aumento de gastos com transferência de renda - como os repasses via Benefício de Prestação Continuada (BPC) - e outras áreas. Em tese, isso acelera a economia e facilita o repasse de preços. Em consequência, o BC precisa elevar o juro - ou deixar a taxa básica alta por mais tempo.

A Selic, por outro lado, começa 2025 com viés de alta. A projeção em janeiro era de que o juro básico desceria até 9% em 2024. Nem perto de um dígito, a taxa encerra o ano em 12,25%. Para 2025, o mercado estima taxa em 14,75%.

Segundo Costa, parte da apreciação da moeda norte- americana é consequência da eleição de Donald Trump. No início do ano, o favoritismo estava com os democratas, o que contribuía com o cálculo de cotação mais próxima de R$ 5. A vitória do republicano, com pauta mais protecionista, tende a fortalecer o dólar ante todas as demais moedas.

O menor dos erros veio do IPCA. Mas ainda que a previsão dominante do primeiro Focus de 2024 já indicasse inflação acima da meta, a 3,9%, não previa estouro do teto, de 4,5%. O último Focus de 2024, apresentado nesta segunda-feira, aponta IPCA em 4,90% no ano. Em 2025, 4,96%.

(Interino)

Ano termina bem diferente do projetado por parte do mercado em janeiro

02/01/2024 30/12/2024

Inflação (IPCA) 3,90% 4,90%

PIB 1,52% 3,49%

Câmbio R$ 5 R$ 6,05

Selic 9% 12,25%*

*Dado da última reunião do Copom

Fonte: Banco Central

Dólar fecha em queda após flerte com alta

O dólar chegou a flertar com valores acima dos R$ 6,20 nesta segunda-feira, mas fechou o último pregão do ano cotado a R$ 6,179.

O leve recuo, de 0,22%, ocorreu após o BC realizar novo leilão de dólares à vista ao longo da tarde para frear a guinada.

O desafio do novo presidente do BC e do governo federal será enorme para trazer o câmbio novamente para a casa dos R$ 5 no próximo ano, conforme prevê o mercado. _

R$ 266,8 mi

era o total negociado dentro do Desenrola Pequenos Negócios no Rio Grande do Sul, segundo dado mais recente, de novembro, informado pelo Ministério do Empreendedorismo.

O programa beneficiou 4,2 mil empresas no Estado. Esses números tendem a aumentar com o fechamento do ano.

O programa prevê financiamento diretamente pelo sistema financeiro, com descontos que variam de 20% a 95%.

Oficialmente, o prazo para a realização das transações dentro do programa é até 31 de dezembro de 2024.

Busca por retomada na reta final do ano

Ramos ligados ao turismo no Estado tentam aproveitar esta época do ano para ensaiar recuperação.

Dados do mercado de trabalho reforçam esse movimento.

Com a abertura de 814 vagas com carteira assinada no penúltimo mês do ano, o setor de alojamento e alimentação acumula a criação de 3.458 postos de julho a novembro, período que marca a retomada pós-inundação, segundo números do Novo Caged.

Um dos mais afetados pela enchente, o segmento ainda não superou os 4.495 postos destruídos em maio e junho, no auge da tragédia, mas tenta.

Com o Aeroporto Salgado Filho funcionando a pleno e o aumento da circulação e do consumo das famílias nessa época, negócios como hotéis, bares e restaurantes buscam mitigar parte das perdas.

O setor ainda caminha para fechar o ano no vermelho nas contratações, mas se distanciando, cada vez mais, de uma queda mais brusca. _

GPS DA ECONOMIA

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