18 de Dezembro de 2024
MARIO CORSO
A vingança do pijama
Depois da eletricidade, tornou-se confuso o que é dia e o que é noite. As pessoas agora vão para a cama mais tarde, conservando as roupas diárias por mais tempo. O pijama e a camisola perderam a solenidade. O robe de chambre - o smoking da noite -, tornou-se irrelevante. Com mais horas de luz disponíveis, o ritual de dormir esvaziou-se. O pijama, quando é usado, fica restrito aos últimos minutos da consciência.
Foi um período triste para o pijama e sua família. Eles, de tão aturdidos, nem esboçaram defesa. Foram necessários alguns anos de sombra e ruminação para inventar uma resposta. Na cabeça deles, se a roupa do dia invadiu a noite, era de pensar em uma roupa da noite que invadisse o dia.
Nos anos 80 do século passado, iniciou-se o contra-ataque. A turma do pijama inventou o abrigo esportivo. Foi um sucesso até entre os atletas, mas quem usou mesmo foram os sedentários. A ideia era não se mexer mas parecer que sim. Então, pijamas travestidos de roupas de dia conquistaram as massas e povoaram as ruas. Finalmente o troco, a roupa noturna colonizou o dia.
Grandes marcas usaram a desculpa das roupas esportivas para invadir as lojas com pijamas - na falta de uma palavra mais adequada - sociais. A terceira idade foi a vanguarda do movimento. Alguns estudantes trocam de pijama, nem sempre, para ir para à aula.
No bojo, artigos noturnos para os pés ganharam versões diurnas. Foi o caso das sandálias Riders, dos Crocks. As antigas pantufas de lã ou feltro ganharam vida diurna na forma de um plástico macio. A praticidade e o conforto, mesmo com o óbvio prejuízo estético, ganharam as ruas, para a felicidade geral da comodidade.
Quando hoje escuto as queixas sobre não dormir bem, a primeira coisa que pergunto é:
Você estava de pijama?
Como reclamar se você nem ao menos observa o protocolo mínimo exigido para a ocasião. _
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